4 de setembro de 2021

ROTTENBROTH (Death Metal - Salvador/BA - Brasil)

“Salvation Thought Vermin”

Rottenbroth foi concebido pelo MetalEvilBrother Danilo Vagner (Papa Necrose) para ser um projeto com a proposta de levar a sonoridade cáustica e podre do Death Metal. 

Lançou em 2015 seu primeiro ep "Visions of Autopsey" e com o tempo passou de projeto pra banda e recentemente teve seu primeiro álbum "Necroceremony Vomitorum" vomitado pra cena... 

Confiram a conversa entre dois maníacos N.Ripper e Danilo Vagner sobre a trajetória do Rottenbroth:



TGZ - Caralho Danilo, finalmente fui surpreendido por um disco que me faz lembrar dos tempos que o cenário Death Metal Baiano causava medo e terror aos desavisados (hehehe). Apresente “Necroceremony Vomitorium” aos obcecados por insalubridades: 

Danilo Vagner: Muito obrigado meu irmão doente J.N., pela oportunidade de divulgar as loucuras da Rottenbroth através desse papo aqui.

O "Necroceremony Vomitorum" foi um álbum criado para aficionados por assuntos que normalmente causam repulsa na massa, não é novidade nenhuma essa linha sonora que aborda essas rotinas clínicas de doenças e síndromes, porém eu tento falar do assunto, de maneira técnica e ao mesmo tempo "poética", pois tento demonstrar a reação do enfermo, através do vocal, tento abordar os sentimentos em determinadas partes do vocal, que remeta momentos de desespero de acordo com a doença ali abordada.

O álbum foi todo escrito por mim e posso garantir um amontoado de podreira e morbidez no conteúdo do álbum. Sem contar as referências claras para os que são sedentos por Death Metal, que estão espalhados pelo álbum, como citação de bandas ou nomes de músicas das maiores bandas de Death Metal do mundo. 

São 8 faixas autorais que diminuem ao nível q o ser humano representa e mais uma faixa que eleva o nível do Death Metal ao qual o Autopsy representa (cover "Gasping for Air").


TGZ – Já o ep “Visions of Autopsy” foi anteriormente lançado em 2016 com você fazendo praticamente toda parte instrumental (além do vocal), mas agora temos uma line-up, o que em outras palavras pode significar shows e com pessoas que tem tudo a ver com a proposta da Rottenbroth (Death Metal sujo, pustulento e insalubre), como meu velho brother Diego Corpsegrinder do R.C.E e Deformity BR na batera, por exemplo... 

Danilo Vagner: É cara, porém por conta das problemáticas da pandemia, me levou a gravar o álbum da mesma forma, porém com o auxílio também dos caras. Tanto Diego quanto Vitor (Escarnium), deram todo suporte necessário mesmo que não na execução, pra que o álbum fosse criado.

Já estávamos nos apresentando ao vivo e após os shows retornarem, continuaremos. Inclusive estou planejando com o Vitor, a possibilidade de darmos um giro em algumas cidades pra levar a nossa sujeira sonora e acredito que Feira de Santana entra nesse esquema.

TGZ – Bicho, como surgiu esse contato com este selo chinês? (Awakening Prods) e em que momento eles conheceram e se interessaram pelo material da banda? Será que corremos o risco de uma variante mais letal desse vírus vim com esse pacote? (hehehe) 

Danilo Vagner: Estava com contato com a Memento Mori (Espanha) mas as coisas meio que desandaram e fomos indicados pelo Raúl (Memento Mori) para a Awakening Records. As coisas se desenvolveram a partir daí muito bem e o Meng Li curtiu pra caralho o som, onde fechamos um contrato de 10 anos com a possibilidade de vários formatos de lançamento dentro desses período.

Prefiro que o nosso vírus sonoro, seja o bastante ahahah. Com certeza não terá problema nenhum, as medidas lá são absurdamente respeitadas. Temos mesmo que temer com a forma q nosso país encara isso.

TGZ – Você também é zineiro, fala um pouco sobre teu trampo aqui, o Rex Inferi Zine. Cara e por falar em zine, sabe por onde andas o maníaco do Eder Dagon (Osculum Obscenum Zine)? Pois bateu essa curiosidade... 

Danilo Vagner: O Rex Inferis iniciou como um webzine mas sempre tivemos o interesse em fazer impresso, eu e Felipe conseguimos nos organizar e hoje, damos mais atenção ao impresso do quê ao webzine (que inclusive temos que dar uma mexida lá). 

Fizemos duas edições de total empenho e profissionalismo com o Underground mundial, entrevistas, resenhas, lançamentos e outras séries de coisas interessantes que levamos ao zine, um clima diferente de alguns outros zines. 

Não tenho nem ideia sobre o que ocorre atualmente com o Osculum Obscenum, sinceramente não tenho nenhuma cópia do zine aqui mas sei que foi uma febre no Underground em um tempo atrás.

TGZ – E sobre as letras da banda? Além do som eu achei algo um pouco diferenciado do que é feito no geral por ai, pois essa coisa de zumbis e H.P Lovecraft meio que já ficou bem batido (embora sempre será bem vindo hehe). Mas acho que o pessoal poderia explorar também outras esferas bizarras da literatura grotesca como Edgar Allan Poe (os peruanos do Profaner tem feito isso muito bem), as poesias lúgubres de Augusto dos Anjos (lembrei do bom e velho Necrotério-PR), outros escritores mais recentes como Thommas Ligotti ou mesmo casos repugnantes da realidade (o R.C.E mandou bem em temas assim no “Misbegotten”, por exemplo). Recomendo também qualquer pessoa ler sobre a gripe espanhola em Salvador em 1919 e a reação da igreja católica na época; inclusive dá pra fazer uma ótima analogia com os dias de hoje. Você encontrará isso em um livro chamado “A Bailarina da Morte”.  Nos fale um pouco dessas letras: “Cognitive Pathology Sound Primary”, 1922, “Cognitive Pathology Sound Intermediary”...   

Danilo Vagner: As letras da Rottenbroth basicamente são sobre doenças e situações mórbidas. Eu gosto muito de Augusto dos Anjos e inclusive, farei com certeza, algo referente a obra desse morto, porém vivo. HP Lovecraft, Stephen King, Allan Poe, são realmente referências latentes para mim e até Graciliano Ramos eu acho foda, a forma que ele aborda a miséria é super detalhado e é algo próximo de nós pra caralho.

"C.P.S Primary/Intermediary" - Aborda uma doença de forma técnica, com sintomas e reações reais e eu acrescento alí, a forma que o acometido pela doença, reage com as dores daquilo. Tanto a "Primary" como a "Intermediary" são doenças linfáticas, onde as artérias são obstruídas e deformidades e coágulos nas peles, são visíveis, essa coisa de erupções no corpo é visualmente bem traumática e na "Intermediary" é um nível que leva a morte facilmente.

"1922" - É basicamente um conto de Stephen King, que conta a história de uma família tradicional do interior dos EUA, onde o marido quer manter uma vida de fazendeiro, porém a mulher (alcoólatra), tenta vender as terras (que são suas) para um coturme próximo e ir morar na cidade grande. O pai faz a cabeça do filho para junto a ele, assassinar a mãe. Isso é extremamente, abordado com detalhes incríveis na narrativa de Stephen King e eu tento abordar as partes mais extremas desse conto na música. Recomendo que façam essa leitura no livro "Escuridão Total sem Estrelas" mas existe o filme também na "merdaflix".

TGZ – A capa do “Necroceremony Vomitorium” ficou muito foda, encarnou toda aura repulsiva que o death metal representa. Fale mais sobre a mesma:

Danilo Vagner: A arte foi solicitada pelo Meng Li (Awakening Records), eu já tinha inclusive uma arte pronta, feita pelo Emerson Maia mas o Li pediu uma nova roupagem e eu curti muito também. 

A arte anterior vai ser utilizada com o possível lançamento em vinil mais a frente. A arte do álbum foi criado por um artista da Indonésia (Hang Rot) que normalmente faz artes pra bandas de Brutal Death Metal, utilizamos aquela e acabou combinando bem.

TGZ – O que você acha que falta no cenário baiano para ele se reerguer do túmulo novamente? Acho que um pouco de cooperação das bandas seria muito bem vindo também, pois existe uma tendencia a criticar os ouvintes e produtores de evento, mas eu já presenciei situações onde as bandas cobraram cachês para tocar numa cidade de meros 15 Metalheads (mesmo com uma boa estrutura oferecida), mas pagam pra tocar em qualquer evento fora do país ou em festivais de grande porte, colaborando com certos esqueminhas sujos da indústria fonográfica do underground empresarial hahaha, embora muitos deles sejam “anti-capitalistas” kkkkkkk vale lembrar... 

Danilo Vagner: É um assunto complexo, eu não tiro a razão de quem cobra algum cachê, manter banda não é brincadeira e quando a banda tem anos e anos de estrada, o custo aumenta ainda mais pois a qualidade da "música" se eleva, a execução melhora, porquê não, cobrar cachê? Bahia é cheia de produtor sacana que se veste de apoiador do Underground mas na primeira conversa sobre ajuda de custo o cara enrola e inventa história, quem não tem um fudido no bolso pra organizar show, não tenta, é menos vergonhoso do quê chorar miséria ou enrolar banda. 

Eu organizo show com o Alessandro (vocal Papa Necrose) e nunca deixamos ninguém na mão, porque os outros não conseguiriam? Eu sou assalariado fudido e consigo pow.

Eu não conheço uma banda do Underground que só gastou lá fora, mesmo porquê, as bandas fazem vários shows, acontece de ter produtor sacana em todo lugar, daí a banda se fode em um evento e no outro repõe, estamos falando de Metal Extremo e já sabemos as problemáticas que existem no meio. 

Eu tô doido pra passar essas perrengues lá fora ahahahah Passar perrengue mas fumar da melhor maconha, fuder as melhores bucetas e beber das melhores cervejas, sem contar, dividir palco com bandas que são escola. Aqui tem isso mas nem se compara, sejamos realistas.

TGZ – Pegando a ponga da pergunta acima, lembro do show do fodástico Corpse Grinder, você e outros poucos Metalheads Deathmaníacos estavam lá, mas acho que faltou uma presença maior de público pra dar um apoio ao organizador (teu xará Danilo, brother) e que mais eventos assim (o Grave Miasma por aqui também foi foda) pudessem ser feitos...  

Danilo Vagner: Estávamos passando por uma crise bizarra de público que a geração antiga ajudou que acontecesse. A pressão do radicalismo, as críticas a nova geração e as agressões, acabou afastando muito gurí que poderiam estar frequentando os shows e renovando o nosso meio, eu já fui gurí e sei bem como os idiotas se comportavam. Eu respeito os que merecem mas o que tem de idiota que agride gente nova apenas por querer se promover é bizonho, isso afasta muita gente. A nova geração também tem sua culpa por apenas dar valor ao digital (na maioria), isso tbm é complicado. 

Eu acredito que o ideal é se aproveitar das variadas formas de disseminação do Metal e não dar exclusividade de maneira unitária. Shows como do Grave Miasma ou Corpse Grinder que teve aqui, era pra ser sold-out, mas é isso mesmo, precisamos de renovação e compromisso. Acredito que quando os shows voltarem, isso tudo vai melhorar.

TGZ – Fala rápido sobre:

"Death Metal Baiano": 

Danilo Vagner: Melhor do Brasil mas ainda pouco unido.

"Covid-19": 

Danilo Vagner: Serviu pra mostrar como a humanidade na maioria, é lixo.

"Papa Necrose": 

Danilo Vagner: Razão da Rottenbroth existir. Família.

"Armas biológicas": 

Danilo Vagner: Servem pra matar o pobre que paga pra a arma biológica existir.

"Evisceration Metal Fest": 

Danilo Vagner: Maior e Melhor fest Underground que a Bahia já teve.

TGZ – Cara, foi uma satisfação trocar essa idéia repugnante. Espero vê-lo novamente qualquer dia desses, bêbados e batendo cabeça em algum evento nas ruas sujas de Salvador ou onde quer que seja.

Danilo Vagner: Eu que agradeço irmão Joselito Necrosis pelo bate papo insano. Espero que isso ocorra o mais breve possível, botar o papo em dias e aterrorizar o rim.

Muito grato por todos os Headbangers que dão suporte a Rottenbroth e a doença jamais irá parar, enquanto existir algum suspiro de vida...

facebook.com/rottenbroth

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