6 de novembro de 2017

HELLOWEEN - PUMPKINS UNITED WORLD TOUR 2017-2018 (São Paulo/SP, 28 de Outubro de 2017)

HELLOWEEN "Pumpkins United World Tour 2017-2018"
Espaço das Américas/SP - 28 de outubro de 2017
Texto e Fotos por Lukas Ellessar

Quando eu tinha 12 anos de idade, conheci o Helloween por uma fita VHS com o clipe de "I want Out"; Foi amor à primeira vista pela música descontraída que a banda fazia. Porém nesta mesma fita, na sequência vinha o clipe de "Forever And One (Neverland)" que mostrava a banda com uma formação e linha de som diferentes. 

Até conhecer toda a trajetória da banda e os motivos que levaram à saída e entrada de vários integrantes, eu já tinha aprendido a gostar de todas as fases da banda, porém, sempre ficava aquele sentimento de "gostaria de ver um show daquela formação clássica". Gostaria de poder mandar uma mensagem para o eu garoto, falando para que acreditasse que isso um dia seria possível. Será que ele acreditaria? Bem, foi difícil acreditar quando em 14/11/2016 a banda anuncia uma turnê intitulada "Pumpkins United", composta por Michael Kiske, Kai Hansen, Michael Weikath, Markus Grosskopf, Andi Deris, Sascha Gerstner e Daniel Löble...



E com o primeiro show confirmado para São Paulo no Espaço das Américas. A venda dos ingressos começou 2 dias depois (16/11/2016) e mesmo com o show sendo quase um ano à frente (28/10/2017) os ingressos foram completamente esgotados em 24 horas.

E com a grande procura, não demorou para anunciarem um segundo show na capital paulista para o dia seguinte. Porém, em momento algum cogitei perder essa oportunidade e assim que as vendas começaram, garanti logo um ingresso para realizar um sonho.

Muito tempo se passou até o fatídico dia, e nesse meio tempo, ficamos sabendo que a banda gravaria os dois shows de São Paulo para o lançamento de um DVD/Blu-Ray ao vivo. Como já haviam gravado antes no Brasil, a banda tem consciência que o público brasileiro é o melhor. E quando a data finalmente chegou, trouxe junto uma grande ansiedade e nostalgia. A fila estava quilometrica e já do lado de fora o clima era de comemoração. Quando finalmente entramos no ambiente, já podiamos ver a enorme cortina vermelha com o logo da banda apenas para deixar a expectativa ainda mais intensa.

E por volta das 21 subiu ao palco Junior Carelli, tecladista da banda Noturnall e membro da empresa que seria responsável pela gravação e produção do DVD da turnê, para instruir sobre a gravação do show e fazer algumas filmagens prévias. Assim que ele deixou o palco parecia que o os todos os presentes no Espaço das Américas tinham prendido a respiração. E logo começamos a ouvir os clássicos acordes introdutórios de "Halloween"; E com o cair da cortina, centenas de balões laranjas trazidos pelos fãs percorreram o ar, dando a real largada para a grande festa que presenciaríamos naquele dia. Lá estava a formação mais grandiosa que a banda já teve. Lá estavam as abóboras unidas fazendo o que contruiram juntos: O real Power Metal.

Michael Kiske e Andi Deris completamente entrosados no mesmo palco; Algo que ninguém poderia acreditar até um ano atrás. Uma abertura sem precedentes, que provavelmente deve ter emocionado tanto o público quanto os músicos.

"Dr. Stein" foi a próxima música, e o hit alto astral do "Keeper II" fez a plateia inteira delirar. Kiske e Deris se uniam não só nos vocais, mas também para animar ainda mais o público com suas performances singulares. O harmonia entre os vocalistas era explícita.

Fomos então apresentados à "Doc" & "Seth", duas abóboras fãs do Helloween, presentes nas animações exibidas no telão ao fundo do palco. Eles foram desenhados pelo brasileiro Marcos Moura que já havia feito outros diversos trabalhos para a banda.

"I'm Alive" foi a primeira canção da noite em que um dos vocalistas cantou sozinho. E que emoção era ver Kiske majestosamente conduzindo o show como frontman do Helloween, assim como ver Kai e Weikath alternando entre os poderosos solos da música.

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a saúde de Kiske, e se questionava se usariam playback como em um dos primeiros shows, esqueceu de tudo isso imediatamente diante da apresentação impecável do cantor.

Passada a vez de Kiske, Deris assumiu a frente do palco e com a balada metal "If I Could Fly" e a pesada "Are You Metal?" A performance do vocalista foi como sempre impressionante e altamente enérgica. Existe uma eterna discussão sobre qual melhor vocalista que a banda já teve, mas se tem uma coisa que não há como se questionar, é que Deris tem a melhor presença de palco que de todos que já assumiram os microfones da banda.

Neste meio tempo, o telão começou a apresentar problemas. Tentaram corrigir algumas vezes, sem sucesso e então desligaram o telão de vez. De maneira alguma isso atrapalhou o show que seguiu normalmente. Eu mesmo só percebi a ausência do telão várias músicas depois, de tão entretido que eu estava curtindo as músicas e as performances dos músicos. Porém, espero que isso não atrapalhe a gravação do DVD/Blu-ray.

Sai Deris e volta Kiske com "Rise and Fall". Era claramente visível que ele estava feliz por estar mais uma vez cantando essa clássica composição de M. Weikath.

Deris descreveu sua paixão por canções com teclados e puxou "Waiting for the Thunder" que fez todo o público levantar seus braços para as alturas. Mas o delírio real dos presentes foi quando ele volta com a singular cartola ao som de "Perfect Gentleman". A icônica (e cômica) canção do primeiro trabalho como frontman do Helloween fez todo o espaço das Américas cantar. Destaque para a interrupção de Kiske apontando para o público e falando para Deris no ritmo da canção: "They are..." E resposta de todos gritando em coro: Perfect! E os elogios continuaram, passando entre os vocalistas e os membros da banda, até que a música se encerrasse com Michael fazendo os backing vocals para Deris.

Um microfone foi colocado ao centro do palco, pois estava na hora de Kai Hansen reviver seus tempos como vocalista original do Helloween! E que momento memorável foi ouvir os gritos poderosos que iniciam "Starlight" e "Ride the Sky". Em "Judas", Kai e Weikath se uniam para os pesados solos de guitarra característicos dos primordios da banda. "Heavy Metal (Is the Law)" finalizava o medley e foi tocada na integra com Kai dividindo os vocais com a plateia que cantava a plenos pulmões. Para quem esperava ver algo dos tempos mais "crús" do Helloween desde que foi anunciada a reunião, foram quase 15 minutos de pura felicidade e cabeças girando.

Banquinhos foram colocadas à frente do palco e chegou o momento do primeiro dueto em que Kiske cantaria de fato uma canção da era Deris. E dedicada para as garotas presentes, "Forever and One (Neverland)" foi lindamente apresentada apenas acompanhada pela guitarra de Sascha Gerstner. A voz e timbre únicos de Kiske deram um charme especial à música que se já era uma balada marcante na versão original, ficou ainda mais apaixonante.

Tirando risadas da plateia, o careca Kiske informa que agora tocariam uma canção da época em que tinha seus longos cabelos. E junto com Andi mandou a belíssima balada que Weikath escreveu para o "Keeper I", "A Tale That Wasn't Right". Deris deu sequência ao show com "I Can" que pra mim é uma das melhores canções de toda sua trajetória no Helloween. E mesmo tendo se passado quase 20 anos de seu lançamento, o vocalista a cantou de maneira impecável.

Veio então a apresentação do solo de bateria de Dani Löble. Foi neste momento que dei falta do telão, pois não tivemos a homenagem ao falecido baterista original da banda, Ingo Schwichtenberg que diga-se de passagem, tem uma das histórias mais tristes do Heavy Metal.

Ao retorno a banda ao palco, houve um pequeno atraso para ligarem o microfone de Kiske e só para quem estava bem perto da grade foi possível ouvi-lo cantando o começo de "Livin' Ain't No Crime", faixa lado B muito divertida da banda. Não demorou para que o problema fosse corrigido e ainda podemos curtir a pequena parte da canção que fazia praticamente a introdução perfeita para "A Little Time", escrita pelo próprio Kiske para o "Keeper I". Esta cantada na integra. Vale dizer, que as pequenas alterações feitas por Kiske para esta composição ao vivo a deixaram ainda melhor que a versão original.

Nesta parte do show tivemos um detalhe muito importante. Os 2 vocalistas começaram a conversar sobre a próxima canção e Deris explica que essa canção originalmente foi escrita para o Kiske, antes de sua saída. Nisso Kiske explica que não havia ouvido nada do Helloween após a sua saída; Deris questiona "Why?" E com humor, mas de forma franca e humilde, o vocalista que deixou a banda em 1993, respondeu fazendo uma careta e cruzando os braços, dizendo de forma simbólica que estava com birra e chateado. 

E foi assim, com todos os fãs presentes totalmente agradecidos por ele ter deixado essa birra de lado, que finalmente tivemos uma pequena amostra de como seria a canção "Why?" sendo interpretada por aquele à quem ela foi feita. Com certeza este foi um dos melhores duetos entre os cantores e para mim ainda mais inesquecível, pois em um momento de solo da música, Kiske se aproximou bem da plateia e consegui cumprimentá-lo com um "fist bump", o nosso famigerado cumprimento de "soquinho".

"Sole Survivor" e "Power" deram sequência ao show com seu vocalista original liderando o palco. Destaque para o trio de guitarras, que de forma harmoniosa interagiam e conduziam as canções.

Andi então anuncia que tocariam a última canção do show, e esta seria a primeira canção da banda que ele ouviu e o levou a se questionar "Por que não estou nesta banda?": "How Many Tears", outro eterno e clássico do "Walls of Jericho" (1985). E se já era memorável ver Kiske e Deris dividindo os microfones, nesta canção Kai também se uniu a eles e assim tivemos todas as vozes do Helloween unidas com as vozes da plateia completamente emocionada.

A maioria dos músicos sairam do palco por um breve momento, ficando apenas Michael Kiske, e após mais uma série de " Olê, Olê, Olê, Olê! Kiskê, Kiskê!" em coro pelo público, o vocalista, visivelmente grato pelo carinho, anunciou "Eagle Fly Free" que trouxe de volta o resto da banda e arrebatou todo o espaço das Américas com o poder da composição que para muitos é um hino do estilo criando pela banda nos anos 80.

E uma set list praticamente perfeita como não poderia ficar sem a canção que na minha humilde opinião, é a melhor e mais complexa de toda a cerreira da banda: "Keeper of the Seven Keys". E a música que que considero a "Bohemian Rhapsody" do Helloween foi apresentada com maestria enquanto mais uma chuva de balões pretos e laranjas bailavam no ar. Kiske assumiu os vocais sozinho por mais da metade da extensa canção, o que deve ter animado os mais nostálgicos; Mas quando Deris se juntou à Odisseia musical, foi algo realmente lindo de se presenciar. A canção, que originalmente tem aproximadamente 14 minutos, chegou a quase 20 com o guitarrista Sascha e a plateia empurrando o coro enquanto cada membro da banda ia à frente do palco saudar e se despedir do público.

Mas a despedida foi breve e logo Kai Hansen estava diante de todos tocando sua versão solo de "In the Hall of the Mountain King" de Edvard Grieg, que se tornou nada menos que a introdução para a canção mais alto astral dentre os gêneros do Metal: "Future World". Canção esta que é praticamente lei estar em repertórios do Helloween.

E para encerrar, não poderia haver outra senão "I Want Out". Eu particularmente já tinha visto Kiske cantando esse som ao vivo junto com Kai no Unisonic, mas ver ao vivo junto com o Helloween é um emoção completamente diferente. Naquele momento eu era novamente um garoto de 12 anos de idade vendo um clipe numa velha fita VHS em que cômicos jovens se divertiam fazendo um som com uma energia única.

Michael e Deris brincavam com a plateia, e apresentaram os integrantes da banda em ritmo de reggae. Kiske até mesmo cantou um pequeno trecho de "White Men Do No Reggae", da banda Pink Cream 69 em meio a farra. Finalizaram o show com uma grande chuva de papel picado e balões que marcaram visualmente o final da festa inesquecivel que as abóboras unidas tinham feito.

E assim foi o primeiro show da Tour "Pumpkins United" no Brasil, um misto de farra, nostalgia e emoção que realizou o sonho de muitos fãs. Um show que provou que velhas desavenças podem ser deixadas de lado e palavras mordazes podem ser repensadas. Mesmo com problemas técnicos, foi a mais intensa apresentação da banda em solo Brasileiro e provavelmente o melhor show da vida de muitos presentes.


Set List:

Halloween
(Michael Kiske & Andi Deris)

Dr. Stein
(Michael Kiske & Andi Deris)

I'm Alive
(Michael Kiske - Preceded by "Seth & Doc" video)

If I Could Fly
(Andi Deris)

Are You Metal?
(Andi Deris)

Rise and Fall
(Michael Kiske)

Waiting for the Thunder
(Andi Deris)

Perfect Gentleman
(Andi Deris)

Starlight / Ride the Sky / Judas / Heavy Metal (Is the Law)
(Kai Hansen)

Forever and One (Neverland)
(Michael Kiske & Andi Deris)

A Tale That Wasn't Right
(Michael Kiske & Andi Deris)

I Can
(Andi Deris)

Drum Solo

Livin' Ain't No Crime / A Little Time
(Michael Kiske)

Why?
(Michael Kiske & Andi Deris)

Sole Survivor
(Andi Deris)

Power
(Andi Deris)

How Many Tears
(Andi Deris, Michael Kiske & Kai Hansen)

Eagle Fly Free
(Michael Kiske)

Keeper of the Seven Keys
(Michael Kiske & Andi Deris / Extendida por Sascha Gerstner)

Bis:

"In the Hall of the Mountain King" / Future World
(Solo de Kai Hansen - Michael Kiske)

I Want Out
(Michael Kiske & Andi Deris)