6 de novembro de 2015

NOSFERATU (Campinas / SP - Brasil)

O Nosferatu surgiu em Campinas (SP) naquele período à beira do “boom” do milênio (em 1999, beirando o ano 2000, quando havia um rumor tal que, na virada anual, todos os computadores não conseguiriam ler o número 2000 em binário; e assim um caos mundial aconteceria: aeronaves caindo, trânsito em alto risco, energia comprometida, etc).

Foi bem nessa época que a banda iniciou os trabalhos com a nostálgica proposta calcada no Heavy Metal tradicional com inspiração, sobretudo, nos grupos da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal).

Vamos conversar com o guerreiro Hussein Salim (único membro da formação original) sobre a trilha do Nosferatu, dentre outros temas...


Hussein Salim (Vocais / Guitarras), Leonardo Yamasita (Baixo / Backing vocais)

TGZ: Saudações, irmão. Lembra-se desse período caótico de um possível “boom” do milênio, enquanto vocês formavam a banda?

Hussein Salim: Sim, foi uma época onde só se falava sobre isso. Todo mundo estava preocupado com essa questão, mas sinceramente eu nem esquentava a cabeça, achava muito sensacionalismo como sempre fazem.

Lembro-me das revistas playboys da época (Tiazinha, Feiticeira, etc, kkk). Isso sim fazia a minha cabeça, hehe.

Mas, falando sério, aquela época foi mágica, a gente não sabia tocar porra nenhuma, mas eu mal podia esperar chegar o final de semana pra ensaiar.

Eu ficava direto treinando na guitarra, juntando qualquer migalha de dinheiro pra comprar instrumentos, vendendo um monte de coisas que eu tinha, vídeo game, bicicleta, etc, kkk.

Quando a gente conseguia tocar algum cover inteiro, era a maior alegria. Aí conforme as músicas próprias iam surgindo, a gente se animava cada vez mais.

"Savoring the Blood"
(Demo, 2003)
TGZ: O nome NOSFERATU remete a uma lendária criatura vampiresca. Conte-nos sobre essa medonha inspiração.

Hussein: Nós estávamos à procura de um nome que tivesse apenas uma palavra, que fosse de fácil assimilação, de preferência que fosse a mesma para vários idiomas.

Na época, eu sugeri esse nome, pois ele é citado no filme “Drácula de Bram Stocker (1992)” pelo professor Van Helsing. Anos depois, fui assistir ao filme “Nosferatu” e saber mais sobre a criatura, hehe.

Como sou fã de filmes de terror e Mercyful Fate/King Diamond, a ideia inicial era abordarmos histórias de terror, então os outros integrantes gostaram da ideia e colocamos esse nome na banda.

TGZ: Após quatro anos de formação, saiu o primeiro registro Demo: “Savoring the Blood”. Como foi a repercussão dessa primeira mordida vampiresca no pescoço do Underground?

Hussein: Essa demo nos ajudou bastante a arrumar shows em outras cidades, tivemos muitas críticas positivas em zines, revistas, etc.

O pessoal que acompanhava os nossos shows gostou muito do material, e se esgotou rápido, fizemos apenas 150 cópias na época.

TGZ: Após um ano (em 2004), a Nosferatu gravou o EP “Returning to the Slaughter”. Há muitas diferenças entre o Demo e o EP, conforme as críticas recebidas na época?

Hussein: Na verdade nós gravamos seis músicas em 2003; a ideia inicial era lançar um CD demo, mas nós não tínhamos todo o dinheiro pra pagar pelas músicas pro dono do estúdio, então conseguimos pagar duas e a Intro, e fizemos a Demo Tape “Savoring the Blood” pra já termos algum material pra divulgar.

Nesse meio tempo, a gente foi juntando mais dinheiro, fomos fazendo mais shows etc, aí conseguimos o valor que faltava pra pagarmos todas as músicas; aí nós lançamos o “Returning to the Slaughter”, um ano depois em formato CD-r demo.

As críticas no geral foram bem positivas também.

TGZ: Aconteceu uma reformulação na formação com a entrada de vocalista e baterista e, assim, vocês gravaram a faixa “Metal Genocide”, incluída na coletânea “Valhalla Demo Section vol. 2” da revista Valhalla. Comente sobre essa participação.

Hussein: Aquele foi um período complicado, pois quando lançamos o “Returning...” já não era com o mesmo vocal e o mesmo batera.

Após mandarmos pra revista Valhalla, fomos convidados pra participar do segundo volume da coletânea.

"Returning to the Slaughter"
(EP, 2009)
Tivemos 8 horas pra gravar uma música, que foi a “Metal Genocide”. Foi trabalhoso porque nós fomos de madrugada, durante a semana, no estúdio, porque era o único horário disponível. Nós gravamos todas as partes instrumentais, e depois voltamos (outro dia) pra gravarmos as vozes e ‘backing vocals’.

Acredito que a participação ajudou a espalhar um pouco o nome da banda, pois saiu uma matéria na própria revista falando sobre a coletânea e saiu também em algumas outras revistas.

Eu particularmente não gostei da mixagem, o pessoal das bandas não podia participar do processo de mixagem. Achei os ‘backing vocals’ muito baixos e também não gostei de outras coisas na gravação, mas em geral foi uma experiência legal.

TGZ: Falando no nome “Valhalla”. A mitologia nórdica define “Valhalla” (do nórdico antigo Valhöll "Salão dos Mortos") como um majestoso salão, em Asgard, dominado pelo deus Odin, para onde vão os guerreiros mortos em batalhas. Gosta de mitologias? E a banda tem alguma letra mitológica?

Hussein: Gosto de mitologias sim, mas não sou um profundo conhecedor do assunto.

Nós temos uma música épica chamada “Forgotten by the gods”, mas não é baseada em nenhuma mitologia. Quem sabe daqui a um tempo a gente possa compor algo nessa linha...

TGZ: ...Então nos diga o que essa sua mente purulenta, ehehe, produz como temáticas para as letras da Nosferatu?

Hussein: Ehehe, então, como falei, no início a gente queria abordar histórias de terror, mas foram surgindo ideias variadas, então achamos melhor não ficarmos presos a um tema só.
Hussein Salim

Nas nossas músicas falamos sobre: possessão, missa negra, guerra de gangues nas ruas, batalhas, infecção, ex-presidiário que, após ser solto, não consegue se reabilitar na sociedade e volta a roubar... Os temas variam bastante.

TGZ: Aproveite e conte a estória daquela velha letra da mutação apocalíptica zumbi (se não me engano, rsrs), que você me mostrou há éons de tempo.

Hussein: Então, na verdade, não são zumbis, são apenas pessoas infectadas. Um vírus letal foi espalhado pelo ar, os hospitais estão lotados, todo mundo está desesperado e ninguém sabe de onde veio isso. As mulheres grávidas estão dando a luz pra uma nova geração de bebês mutantes... E por aí vai, ehehe.

TGZ: O selo boliviano Morbillus Records relançou o EP “Returning to the Slaughter” em formato K7 com quatrocentas cópias limitadas. Já se esgotaram? E fale acerca dessa decisão de lançar em k7.

Hussein: Nós fomos convidados pelo dono do selo Morbillus Recs pra lançar o material em K7 e topamos a ideia.

Na verdade, ele lançou as capas e mandou pra gente para gravarmos as Tapes aqui.

Lá fora já acabaram essas cópias, mas a gente ainda tem algumas cópias, o problema está sendo achar fita virgem pra gravar...

Nós quisemos lançar nesse formato, pois lá fora ainda tem uma grande procura por fitas K7, e nós gostamos muito desse formato.

TGZ: Beleza; comente como foi o processo para a Dark Sun Records (RJ) lançar o mesmo EP (formatos Vinil e CD) com os bônus: “Metal Genocide” e dois covers: “Hammerhead” (Tysondog – Inglaterra) e “Lightning Strikes” (Thor – Canadá). 

Hussein: Então, esse material não foi lançado em vinil, a ideia inicial era pra sair em 500 cópias limitadas em LP, aí esperamos alguns anos e não saiu esse material.

Aí, uns anos depois, o Ader (dono da Dark Sun) disse que queria lançar em CD e depois em LP.

Nós achamos melhor, na versão em CD, colocarmos algumas músicas bônus, pois senão seria praticamente o mesmo material que já havíamos lançado em CD-r.

Aí entramos em contato com as bandas, eles gostaram da ideia e nos autorizaram a gravarmos os covers.

Até hoje esse material não saiu em LP e perdemos o contato com o Ader. Após muitas tentativas da nossa parte, pois precisávamos pegar mais cópias do Cd (as nossas haviam acabado), mas ele simplesmente sumiu.

Então, um tempo depois, relançamos esse CD pela gravadora Atittude Underground Records, que está nos dando um grande apoio e pretendemos lançar o próximo álbum com eles também.

TGZ: Entendi. Já falamos em formatos (K7, Vinil, EP/CD), mas qual a sua opinião sobre os novos formatos tecnológicos de mp3’s, mp4’s, e assim por diante?

Hussein: Cara, essa é uma questão complicada, eu já lutei muito contra esse lance de mp3, mas hoje em dia, acho que tem o lado bom e o ruim.

O lado bom é que você pode disponibilizar alguma faixa da sua banda pras pessoas “baixarem” e conhecer o som. O problema é que o pessoal não quer saber mais de comprar discos e só quer saber de ficar baixando músicas.

Uma banda já tem muitos gastos com instrumentos, cordas, etc. Ela depende da venda dos seus materiais, se não houver isso fica muito complicado.

Mas é difícil conscientizar a geração mais nova que já está acostumada com tudo muito fácil.

Vou dizer por mim, eu gosto sempre de comprar material das bandas, gosto de ter o material físico; claro que não é sempre que dá pra fazer isso, mas sempre que posso estou adquirindo CDs/LPs pra minha coleção.

Capa “Satan’s Child"
TGZ: Quando sairá o álbum de estréia “Satan’s Child”? E explique o título.

Hussein: Pretendemos lança-lo esse ano ainda, estamos pegando firme nas gravações, mas como só restou eu e o baixista na banda, estamos tendo muito trabalho pra gravar e editar as músicas.

O título do álbum é o nome de uma música que retrata uma missa negra e o nascimento do Anticristo. Essa já cai um pouco na ideia inicial, quando queríamos fazer letras abordando contos de terror.

TGZ: Além disso, a banda está preparando duas músicas para um EP 7 polegadas (“Infected City”) que sairá por dois selos alemães (Destruktion Recs e Anger of Metal Recs). E a expectativa?

Hussein: A expectativa é muito grande, as músicas serão “Infected City”, que fala sobre aquele tema que havíamos conversando, das infecções que gerarão bebês mutantes etc. E “Law of the streets”, que fala sobre briga de gangues, com influência do filme “The Warriors”.

A capa do Ep já está pronta, em breve iremos divulga-la. E essas músicas vão servir de prévia para o próximo álbum: “Satan’s Child”.

TGZ: Salim, relate uns fatos curiosos e engraçados que já aconteceram.

Hussein: Nossa cara, já aconteceu cada coisa que você nem acredita, kkk. Posso citar uma vez quando estávamos gravando a música pro Split, alguns fenômenos estranhos começaram a acontecer no estúdio.

Estávamos gravando uma música sobre possessão “Blessed by flames of hell” e o cara do estúdio era meio cagão, tava cabreiro com aquelas coisas, aí do nada começou a dar pau nos equipamentos lá e a gente não sabia o que era; depois voltou tudo ao normal, foi muito estranho, é difícil de explicar... Fora que estavam acontecendo muitas coisas ruins na minha vida naquela época, aí a gente ficou meio cabreiro com isso, hehe.

Teve uma vez também que aconteceu um lance bizarro, a gente tava ensaiando, faz muitos anos isso, a gente era bem “mulecão”, aí ensaiávamos na casa da minha avó num quartinho que tinha lá no fundo.

Ela vivia embaçando com a gente, achando que estava incomodando os vizinhos e tal com a barulheira, aí iria ter jogo do Corinthians nesse dia. Até então ela tinha deixado a gente ensaiar, aí a gente tava lá, de boa, ensaiando e meu avô veio já no começo do ensaio falando que era pra gente parar, que iria ter jogo e ia incomodar os vizinhos que queriam assistir.

Aí eu falei que a minha avó tinha deixado a gente ensaiar e que não atrapalharia o povo de assistir o jogo. Aí ele saiu da sala e a gente continuou ensaiando.

Deu uns 10 minutos, minha avó chegou pelas minhas costas dando vários rapões e puxões de orelha, mandando a gente parar com a barulheira, Kkkk.

Cara eu fiquei num ódio tão grande, hehe; os outros integrantes da banda não sabiam nem o que fazer, a gente ficou chocado, depois de um tempo a gente deu risada disso tudo.

Bom, tiveram muitos casos bizarros, teve vezes que o carro quebrou com a gente cheio de equipamento pra rua, etc. A lista é grande, hehe.

TGZ: Hehe, guerreiro; o ThunderGod Zine agradece pela oportunidade com o NOSFERATU...

Hussein: Cara, agradeço pelo espaço cedido, espero que você e os leitores tenham gostado da entrevista e, em breve, estaremos de volta aos palcos e com material novo. Abraço!

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