9 de maio de 2022

MALEFACTOR (Epic Metal - Salvador/BA - Brasil)

O Malefactor (Epic Unholy Metal – Salvador/BA), foi forjado no Inferno Soteropolitano há mais de 30 anos, mais precisamente em 1991. 

Nessas três décadas trilhou seu caminho no Heavy Metal mostrando o poder do seu som viajando o Brasil e fora dele, lançou seis discos de estúdio, além de outros materiais como demos, vídeos, eps, enfim o Malefactor tem sua história solidificada na cena Metal e sinceramente dispensa maiores apresentações, por isso vamos logo partir para esse bate papo com o vocalista e agora baixista Lord Vlad que vai falar mais sobre a banda:


TGZ – Lord Vlad, como disse acima vocês dispensam maiores apresentações pela história e pela trajetória gloriosa da banda ao longo desses mais de trinta anos, mas ainda assim de repente você queira falar um pouco sobre o que é o Malefactor:

Lord Vlad: Obrigado pelo convite, união metalizada sempre. Quero dizer que somos eternamente gratos aos zines pelo suporte nestes 30 anos. Agora que a pandemia parece estar mais controlada, vamos começar a planejar as comemorações destas 3 décadas. 

Estamos quase entrando em estúdio para gravar uma música nova, que virará um vídeo clip e voltar aos palcos no segundo semestre de 2022.

TGZ – Eu falei que você agora além de vocalista assumiu as cordas graves da banda, mas esse “agora” já tem um tempinho, ok? Fale como foi assumir essa função, mudar um pouco sua forma de se apresentar, afinal você era “somente” o frontman ...

Lord Vlad: Comecei o Malefactor em 1991 sendo vocalista e guitarrista base. Nunca deixei de tocar guitarra todos estes anos. Em 2017, quando saíram 3 músicos, resolvemos voltar aos tempos de quarteto, do início de nossa trajetória. 

Sem tecladista, e eu assumindo o baixo, além de um novo baterista. Me sinto bem confortável, já que a adaptação foi rápida, e agora não usamos mais cabos e podemos interagir ainda mais com o público durante os shows. 

Já temos planos para os próximos shows também, para que os metalheads sintam-se parte ainda mais importante nas nossas apresentações.

TGZ Essa mudança no Malefactor também alterou o lay-out da banda, agora vocês são um quarteto... após esse período de adaptação você acredita que esse será o modelo de formação definitivo da banda?

Lord Vlad: Sim, não temos planos de voltar a ter outro baixista ou um novo tecladista. Só nós 4 tem facilitado tudo ao nosso redor. Das tomadas de decisões às contratações para shows.

TGZ – Nós passamos (ainda estamos na verdade) por um dos períodos mais difíceis da história da humanidade com a pandemia do Corona vírus que ceifou milhões de vidas em todo mundo e mudou a forma de como as pessoas se relacionavam, pelo menos impôs algumas mudanças nesse sentido. Como o Malefactor passou por esse momento? Eu lembro de algumas lives...

Lord Vlad: Durante a pandemia, fizemos bastante coisa. Além de 3 lives chamadas “Memórias da Estrada”, cada uma com mais de 2 horas de relatos as vezes inacreditáveis do que já passamos rodando pelo mundo, gravamos uma música nova em formato Home Made chamada “Medusa” com um clip com participação de vários outros músicos de metal da Bahia, lançamos um cd especial com uma arte maravilhosa contendo nossas demos, um show e duas regravações de músicas do período, participamos de um Festival Online da Roadie Crew além de muitas entrevistas para vários canais e zines neste período. 

Temos músicas compostas para mais de um disco que iremos gravar e distribuir aos poucos. Foi um período de bastante atividade dentro das possibilidades nesta pandemia. 

Fizemos de tudo que foi possível sem comprometer nossa saúde e dos que estão à nossa volta. Infelizmente por decisão de isolamento, tivemos que recusar uma participação presencial no Festival Dopesmoke que é sensacional. 

TGZ – E vocês no âmbito pessoal, como passou por esse momento complicado?

Lord Vlad: Me isolei completamente. No início não via minha família, nem amigos. Fiquei mais de um ano sem ver pessoalmente ninguém da banda. Só saía do trabalho (onde trabalho isolado) para casa. 

Nos primeiros meses meu bairro ficava em silencio quase total. Não funcionava nada além de farmácias e supermercados (com controles de horários e público). Isso não me fez nada bem. Tive crises de ansiedade terríveis e Dona música me salvou. 

Aproveitei para compor, para gravar muita coisa que nem mesmo usarei, mas que sempre mostro a amigos próximos. Toco também na Poisonous e gravamos um EP que vai sair em todos os formatos em 3 continentes, gravei todo um álbum novo para o Born in Black , um projeto de heavy metal que canto junto com amigos da velha guarda daqui e de outros estados do Brasil. 

Não fiquei parado com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar. Dei sorte de encontrar pessoas nas redes sociais que se tornaram amigos. Inclusive minha namorada atual conheci numa rede social e as coisas melhoraram muito ao meu redor. Não posso reclamar. Moro só, trabalho só e via muita gente se infectando e morrendo porque não tinha estes privilégios. 

De um ano para cá abandonei de vez a bebida, o que eu já vinha fazendo gradualmente há uns 4 anos. Posso beber numa ocasião especial, mas abandonei o hábito. Passei a cuidar mais da minha saúde fazendo musculação e pedalando pela cidade. Ainda estou longe de ser um exemplo de saúde para alguém, mas tenho me esforçado. Li bastante também. 

Agora estou meio preguiçoso para leitura, mas devorei livros e filmes e discos durante esse período, senão pirava de vez. 

TGZ – Ainda não acabou a pandemia, mas algumas coisas estão voltando a acontecer, como shows por exemplo, vocês estão se articulando algo nesse sentido? Volta aos palcos, tournées, etc?

Lord Vlad: Sim. Já iremos gravar uma música nova em breve. O plano é gravar ainda este mês, mas como saio de férias mês que vem, talvez não dê tempo de finalizar. Estamos ajeitando um show para Agosto com Malefactor, Headhunter DC e The Cross em Salvador, e estamos escalados para o grande Setembro Negro em São Paulo, ao lado de dezenas de bandas foda do Brasil e do exterior. 

Aos poucos a rotina irá voltar e 2023 com certeza faremos uma nova tour.  Minha ideia é irmos para fora do Brasil. Vamos ver como as coisas irão progredir nesse país maluco com cara de golpe de estado a caminho.


TGZ – ... e sobre o disco novo, vocês lançaram o último álbum em 2017, tem algo a caminho?

Lord Vlad: Sim, temos músicas compostas para mais de um disco. Estamos pensando como iremos fazer. Muito provavelmente vamos ficar lançando EPs pelos próximos anos com alguns vídeo clips. Não temos ideia se vamos gravar um disco completo tão cedo.

TGZ – Falando em disco, muito se discute hoje sobre o “fim dos álbuns”, devido ao perfil dos ouvintes, principalmente os mais jovens que não escutam mais discos inteiros nas plataformas de streaming, físicos então uma boa parte não sabe nem o que é isso mais... Fale um pouco sobre esse fenômeno:

Lord Vlad: Infelizmente isso é uma realidade e como todo metalhead nós levamos tempo para pensar em como agir. Não julgamos ninguém e nem queremos ser julgados. Mas se tornou quase um fardo gravar um disco inteiro. Não por preguiça mas pelo fato que poucos ouvem com atenção um disco inteiro atualmente. Só quando o disco chama muito atenção, e olhe lá. 

Claro que muitos não são assim, mas é difícil. É muita facilidade de acesso e toneladas de discos todo dia chegando.  Percebemos isso claramente. 

Quando tocamos ao vivo uma música que tem vídeo clip e foi trabalhada de forma isolada, a recepção é muito maior do que outra música nova que saiu somente no disco. Isso não nos impede de fazer as duas coisas, mas por um tempo vamos focar em pequenos EPs e investir mais em vídeos. Temos muitas músicas que gravamos que nunca foram tocadas ao vivo nem tiveram vídeos e meio que caíram no esquecimento. 

Isso ocorre com bandas gigantes, imagine com bandas underground. Para quem estiver lendo e discordando: Qual o último disco de metal brasileiro que você ouviu e lembra de todos os riffs? Obvio que as pessoas não desaprenderam a compor. Muito menos, desaprenderam a gravar. 

Eu sou colecionador de discos a vida toda. Por baixo deve ter uns 30 a 40 discos lá em casa que ainda estão lacrados. Não dá mais para acompanhar tudo que é lançado e prefiro abrir um disco e ouvir com calma, por várias vezes. Maioria dos meus amigos pegam um disco, ouvem as 3 primeiras faixas e se não bater na alma de primeira, nem ouvem até o final. Isso é algo atual e real. O resto é saudosismo. Repetindo, não é preconceito, nem modismo, nem julgamento. Apenas temos 30 anos de banda e podemos experimentar outras formas de mostrar músicas novas sem esquecer dos formatos tradicionais. 

Até hoje lançamos tapes, por exemplo. 95% dos metalheads nem tem mais aparelho para tape. 

TGZ – Ainda sobre esse tema, eu assisti recentemente numa das edições do Cenas do Subsolo, Leão (apresentador) comentando sobre um levantamento de que os mais jovens não escutam mais músicas com mais de 2,5 minutos nas plataformas de streaming, ou pelo menos escutam cada vez menos... 

Mas essa semana a banda Dream Theater foi premiada no Grammy, ou seja, é até uma contradição pois o Dream Theater é até motivo de brincadeiras nas redes sociais por ter canções e discos longos (rsrsrss), qual sua opinião a respeito disto? Esse “fenômeno” também te preocupa?

Lord Vlad: O Grammy está longe de ser uma referência para o metal, piorou o extremo. O Dream Theater é um caso à parte justamente porque não é uma banda exclusivamente de metal. Ali tem jazz, pop, fusion, a porra toda. Mas com certeza, mesmo eles, uma banda gigante, precisa correr muito atrás com shows e clips e várias músicas deles, acabam esquecidas mesmo pelos fãs mais ardorosos. 

Meu cérebro já tem música e filme e livro demais dentro dele. Não consigo mais absorver coisas novas com a mesma voracidade de quando era garoto. Os garotos de agora são o contrário. Tem um HD mental limpinho mas querem ocupar só pequenos espaços. É muita pressa e pouco senso crítico para artes. Estou longe de ser um radical obtuso, mas odeio essa avalanche de merda que jogam nos jovens o tempo todo. 

Ontem estava ouvindo uma análise sobre mercado musical num programa jornalístico e as formulas de mercado. O cenário mainstream agora obriga o artista até mesmo a formatar que as músicas já comecem do refrão ou que o refrão chegue logo em segundos, senão o consumidor pula a música. E ainda tem que pensar em COREOGRAFIA DE TIKTOK, senão a grana não vem. Não faço parte e nunca farei desse assassinato da música. Mas acabamos sendo bombardeados por tudo isso o tempo todo. 

Conheço poucos amigos que não tem rede social. Basta entrar lá um minuto que você vai sacar o que estou falando. Tudo tem que estar linkado com meme, com dança, com vídeo engraçado. Não gera reflexão. As pessoas querem futilidade e chamam isso de produção de conteúdo. Uma conhecida disse que nosso metal está ultrapassado. Bem, ele vai continuar ultrapassado em várias situações e renovado dentro do que achamos respeitoso e fiel à nossa história musical. 

Não vivo de banda, posso me dar a esse luxo de não aceitar tudo que o mercado quer.

TGZ – Lord Vlad irmão, muito obrigado pela atenção, por ter cedido um pouco do seu tempo, mas deixo o espaço para suas considerações finais:  

Lord Vlad: Obrigado irmãos. Hail Thundergod Zine! Hail Satan ! STAY EVIL!!

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