23 de setembro de 2017

OVERLOAD MUSIC 2017 - John Haughm / Les Discrets / Sólstafir / Enslaved (São Paulo/SP, 16 de Setembro de 2017)

OVERLOAD MUSIC FEST 2017 - Carioca Club

Texto e Fotos por Lukas Ellessar

Todo Headbanger tem aquela banda “do coração”, da qual pensa: “Essa banda nunca virá ao Brasil”, não é?! Porém, um festival brasileiro já me livrou desses pensamentos mais de uma vez: Overload Music Fest, festival anual organizado pela produtora Overload

Com uma proposta bem diferente da maioria dos festivais do país, o Overload é sempre elaborado com um cast mesclado de grandes nomes e outros em ainda em ascensão dentro da música alternativa. Ainda guardo boas recordações da primeira edição do evento, em 2014 quando fui surpreendido com a vinda do Alcest pela primeira vez ao Brasil.

Nesta quarta edição, a produtora trouxe um ilustre elenco de apresentações inéditas no Brasil...


Como headliner, foi convocado o grupo de Black Metal Progressivo norueguês Enslaved. Já para a abertura do evento, tivemos John Haughm (USA), lendário fundador do Agalloch, apresentando suas músicas experimentais. Mas para mim, a grande surpresa dentre as bandas convidadas, foi a confirmação de dois grandes nomes do Post Metal; os Franceses do Les Discrets, e acima de tudo, diretamente das terras gelídas da Islândia, o Sólstafir

John Haughm
Tendo mais uma vez o Carioca Clube como sede, o OMF 2017 manteve a tradição da pontualidade, desde a abertura dos portões ao início das apresentações. O espaço foi muito bem organizado com área de alimentação, merchans de CDs, LPs, camisetas e pôsteres; uma pequena exposição de obras do Fursy Teyssier, do Les Discrets, responsável pelas artes da capa de diversas bandas como por exemplo o próprio Les Discrets e o Alcest. 

Não menos importante, um espaço foi destinado ao Meet & Greet gratuito, com horários determinados para todos os artistas. Organização nota 10! Esse é um dos motivos que, junto com as atrações singulares, faz com que esse evento esteja se tornando cada vez mais uma referência no país.

Então, como esperado, às 17:30 subia ao palco o John Haughm; Apesar das expectativas de fãs de seus trabalhos anteriores (Agalloch) e atuais (Pillorian), seu show instrumental elétrico não abordou esse lado de sua carreira. Foi uma apresentação curta, no que opto por chamar de "Música Ambiente Pesada", com características de Post Rock e Noise. 

Uma verdadeira "viagem" para quem curte esse tipo de som, e com um grande apelo visual que era complementado pelo telão do Carioca.

Les Discrets
Na sequência veio o Les Discrets. A banda de Post Metal/Shoegaze fundada pelo multi-instrumentista e ilustrador Fursy Teyssier. 

Logo senti a ausência da Audrey Hadorn, um dos vocais da banda, porém como todos os presentes, acredito eu, não me deixei abalar.

E com a canção "L'Échappée" do icônico disco "Septembre et ses dernières pensées" (2010), as emoções dos presentes que esperavam ansiosamente esta apresentação entrou em ebulição. 

E não era para menos, pois a banda apresentou um set list recheado de clássicos de toda a sua carreira. Mas até mesmo as canções mais recentes, "Le Reproche" e "Virée Nocturne" do disco "Prédateurs" (2017), foram muito bem recebidas e até cantadas por alguns que arriscavam no Francês, ou ao menos tentavam (risos).

Les Discrets
Nas canções "La nuit muette" e "La traversée", ambas do "Ariettes oubliées..." (2012), ao mesmo tempo em que a maioria da casa bangueava juntamente com os músicos, também era possível ver alguns presentes com lágrimas nos olhos.  
E com "Song For Mountains" (uma das canções mais queridas do "Septembre..."), os franceses chegaram ao fim de sua apresentação. Correspondendo à animação do público brasileiro, a banda tinha realizado um show tão cheio de empolgação, que era difícil acreditar que eles se auto intitulam de "O discreto".

Eu particularmente nem pude sentir aquele singular sentimento de vazio e saudade após o fim de um grande show, pois sabia que estava chegando o momento de riscar mais um nome da minha lista de 5 bandas que preciso ver antes de morrer.


Sólstafir
Sólstafir sobe aos palcos amplamente aplaudidos pela plateia. E não demorou para os acordes de Silfur-Refur, canção que abre o disco mais recente da banda, "Berdreyminn" (2017). Antes mesmo do fim da primeira canção, o frontman Aðalbjörn "Addi" Tryggvason (Guitarra e Vocal) já tinha conquistado a todos com seu carisma; uma presença de palco que com certeza marcou os presentes. 

Na sequência, "Ótta" e "Náttmál" do bem-sucedido "Ótta" (2014) levou o Carioca Club à uma viagem psicodélica. 

Sólstafir
Num certo momento, "Addi" Tryggvason estendeu o microfone para um rapaz na plateia e questionou, em inglês, qual seria a palavra em português para "beach". A resposta: "praia”; era a dica de que a próxima canção seria um hino do grupo: "Fjara" do "Svartir Sandar" (2011). 

Quando começou os inconfundíveis acordes de Fjara o local vibrava com intensidade, com a plateia ovacionando energicamente.

"Goddess of the Ages" foi a única canção resgatada do "Köld" (2009) e também a última música da apresentação dos islandeses. E de forma a deixar tudo ainda mais singular, subitamente, "Addi" Tryggvason desceu do palco e com seus quase 2 metros de altura, subiu na grade de proteção e ali mesmo continuou cantando, se equilibrando com a ajuda dos fãs. Um final de show memorável.

Sólstafir
A performance do Sólstafir foi de uma imersão fantástica; A banda é de fato uma representação artística de seu local de origem. Em suas canções sentíamos tanto o frio do Ártico, quanto o calor dos vulcões proeminentes das ilhas de gelo. Apesar do fato de este que vos escreve ser suspeito para falar, deixo aqui a frase que ouvi de um dos presentes que conheceu a banda somente durante o Overload: 

- “ Sólstafir, a melhor banda, melhor show da noite”.

E obviamente não posso negar.

Enslaved
Por fim, chegou o momento Enslaved. Os noruegueses tinham nas mãos a árdua tarefa de realizar um show após o espetáculo do Sólstafir. E quando o momento esperado chegou, e o baixo de Grutle Kjellson puxou a canção que dá nome ao disco "Ruun" (2006), infelizmente os ajustes sonoros e técnicos da casa não colaboraram. 

Os Vocais e guitarras de Håkon Vinje estavam muito baixos; Os efeitos de iluminação deixaram a desejar, e junto à disposição dos integrantes da banda no palco, fazia com que alguns dos músicos ficassem fora do campo de visão da plateia em lugares específicos.

Mas nada disso poderia atrapalhar o Enslaved. Com um set list especial, passando por diversas etapas de sua carreira, a banda alegrou todos aqueles que esperaram anos, senão décadas para conferir os noruegueses ao vivo. A lindíssima "Death in the Eyes of Dawn" do "RIITIIR" (2012), fez todo o público cantar. Assim como gerou até pequenas rodas de mosh pit com a brutal "Vetrarnótt" do "Vikingligr Veldi" (1994).

Enslaved
Por fim, a banda executou "Slaget i skogen bortenfor", uma canção retirada do EP "Hordanes Land" (1993). Os músicos terminaram a apresentação orgulhosamente, cientes que tinham dado o seu melhor, apesar das dificuldades técnicas. E o público os aplaudiu fervorosamente em agradecimento.

Com certeza este foi um dos melhores eventos que fui este ano, e fica meus elogios à produtora, por se dedicar a fazer com que cada edição seja melhor que a anterior. É notório em suas redes sociais e grupos dedicados ao evento, como a Overload interage com o público, sempre anotando dicas e críticas pontuais que lhe são dirigidas. 

E assim, ficamos agora com a grande expectativa de quais bandas virão para próxima edição. A única certeza é que provavelmente o Overload Music Fest 2018 vai realizar o sonho de muita gente.

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SET LISTS:

LES DISCRETS

01. L'Échappée
02. Les feuilles de l'olivier
03. Le Reproche
04. Virée Nocturne
05. Le Mouvement perpétuel
06. Chanson d'automne
07. Après l'ombre
08. La nuit muette
09. La traversée
10. Song for Mountains

SÓLSTAFIR

01. Silfur-Refur
02. Ótta
03. Náttmál
04. Ísafold
05. Djákninn
06. Fjara
07. Svartir Sandar
08. Goddess of the Ages

ENSLEVED

01. Ruun
02. Death in the Eyes of Dawn
03. Ground
04. Ethica Odini
05. One Thousand Years of Rain
06. Heimdallr
07. Vetrarnótt
08. Allfǫðr Oðinn
09. Isa
10. Slaget i skogen bortenfor