HEADHUNTER
D.C. TRINTA ANOS DE CULTO DA MORTE
Por Leonardo M. Brauna*
2017 é um ano especial para
o Headhunter D.C., pois marca o alcance de trinta anos ininterruptos dedicados à
essência do Death Metal, mas isso ainda não é uma tarefa cumprida para Sérgio “Baloff”
Borges (vocal), Paulo Lisboa e George Lessa (guitarras), Zulbert Buery (baixo)
e Daniel Brandão (bateria), pois segundo o vocalista que nos atendeu para esta
entrevista, a banda tem planos para continuar na estrada por tempo não
estimado.
Estas três últimas décadas já renderam ao grupo, além de uma respeitável discografia, reconhecimento tanto no Brasil como no exterior, a exemplo do álbum “Death Kurwa! - Live In Warsaw 2013”, lançado no Reino Unido, e dos tributos “Born To Punish The Skies...” lançados em dois volumes no Brasil. Sérgio conta para a Roadie Crew* como é estar entre os grandes nomes da música extrema mundial, além de reafirmar o compromisso com a ideologia e sonoridade do estilo que revelou a banda para o mundo. Relembra também os primórdios do cenário de onde saiu o Headhunter D.C. e, dentre outros detalhes, adianta como está o processo de composição do álbum oficial que sucederá “...In Unholy Mourning...”, álbum atual lançado há cinco anos.
*Entrevista parcialmente publicada na edição #217 da Revista Roadie Crew, confiram na íntegra:
Estas três últimas décadas já renderam ao grupo, além de uma respeitável discografia, reconhecimento tanto no Brasil como no exterior, a exemplo do álbum “Death Kurwa! - Live In Warsaw 2013”, lançado no Reino Unido, e dos tributos “Born To Punish The Skies...” lançados em dois volumes no Brasil. Sérgio conta para a Roadie Crew* como é estar entre os grandes nomes da música extrema mundial, além de reafirmar o compromisso com a ideologia e sonoridade do estilo que revelou a banda para o mundo. Relembra também os primórdios do cenário de onde saiu o Headhunter D.C. e, dentre outros detalhes, adianta como está o processo de composição do álbum oficial que sucederá “...In Unholy Mourning...”, álbum atual lançado há cinco anos.
*Entrevista parcialmente publicada na edição #217 da Revista Roadie Crew, confiram na íntegra:
Headhunter D.C. Foto: Divulgação |
RC/TGZ
- Em 2017 o Headhunter D.C. comemora trinta anos de atividade. Que sentimento
surge quando você reflete nessas três décadas?
Sérgio
“Baloff” Borges: Mais
uma vez com o perdão do clichê, a sensação é a do dever mais que cumprido
mesmo. Mas ao olhar para esses trinta anos de estrada, eu percebo o quanto o
tempo passou rápido. Outro dia estávamos completando 10 anos de existência, e
naquela época, em 1997, isso já era um grande feito, principalmente aqui no
Nordeste, com todas as dificuldades que enfrentávamos (e continuamos
enfrentando) para se manter ativos como uma banda de nosso estilo, e poucas
bandas de nossa era conseguiam se manter por tanto tempo de forma ininterrupta
como nós, pois sucumbiam à todas essas dificuldades e acabavam encerrando suas
atividades ou então mudavam de estilo para tentar se adequar a outros públicos.
Hoje em dia as coisas estão bem mais fáceis, o acesso e o suporte ao Metal é
mais amplo, portanto se vê mais bandas durando mais tempo e sendo capazes de
enfrentar essas adversidades com um pouco mais de condições e estrutura. O
nordestino em si é um forte por natureza, e essa qualidade do homem e da mulher
do Nordeste nos traz um grande orgulho por termos essa força de lutar pelos
nossos ideais com muito sangue nos olhos, combater os preconceitos com
serenidade e inteligência e manter a chama acesa por muito, muito tempo, e esse
orgulho se estende pela manutenção de nossa própria concepção do que é Death
Metal e do que é Underground, por jamais termos nos rendido às modas e
tendências que tomam a cena de assalto de tempos em tempos, por continuarmos,
depois de tanto tempo, tocando e vivendo o Death Metal como este nasceu para
ser. Essa seria uma breve e resumida reflexão de nossa longa história.
Headhunter D.C. Foto: Frederico Neto |
RC/TGZ
- Como era a cena Metal de Salvador/BA
há trinta anos? Quais eram as bandas nacionais que estavam presentes em reuniões
de headbangers na forma de LPs e fitas cassetes?
Sérgio:
Há
trinta anos estava se formando uma cena de Death Metal em Salvador, e o Túmulo
(pré-Headhunter D.C.) e o Headhunter (então ainda sem o ‘D.C.’) são os grandes
pioneiros nessa questão, porém ainda antes disso já existia uma cena de Metal
mais agressivo liderada por Krânio Metálico (de 1984) que são os verdadeiros
iniciadores desse lado mais selvagem do Metal por aqui –, e ThrashMassacre, que
era nossa banda-irmã e que juntos demos o pontapé inicial daquilo que seria uma
cena única, frutífera e legendária em termos de Metal no Brasil. As bandas
nacionais que estavam sempre saindo de nossos alto falantes durante nossos
encontros eram aquelas que estavam caminhando para uma proeminência naquela
época, como Sepultura, Sarcófago, Vulcano, Chakal, Holocausto, Mutilator, MX,
Cova, Blasphemer, Necromancia, Dorsal Atlântica, Exterminator, Panic, Attomica,
Genocídio, porém o ‘tapetrading’ já era uma cultura bem forte naquela época, e
através dele começamos a ter acesso a outras bandas que estavam surgindo e que
começavam a lançar suas demos, como Tormenta, Insulter, Desaster (SP), Butcher,
Necrófago, D.E.T.H., Ritual (Santos/SP), Necrovomit, Nightmare, Abomination,
Decaptation, Anschluss, Warhate, Bestial War entre outras.
RC/TGZ
- Agora, gostaria que comentasse sobre a atualidade no cenário extremo nordestino.
A região se tornou uma representante nacional nesse sentido, com bandas fazendo
turnês dentro e fora do país. Como vivo e acompanho a cena cearense há quase
trinta anos, por exemplo, me sinto à vontade para dizer que há pelo menos dez
anos atrás não se via tal exposição. Qual a sua visão?
Sérgio:
Pois
é cara, é engraçado quando comparamos as épocas e vemos que o Nordeste passou
de uma região desacreditada por parte do Sul e Sudeste do país em termos de
Metal para uma das cenas mais fortes do Brasil, com bandas que trabalham sério
e com qualidade muito acima da média, sem falar que hoje em dia qualquer banda,
brasileira ou estrangeira, quer vir tocar aqui, então podemos dizer que a cena
do Nordeste não apenas sobreviveu de forma sadia ao tempo e às dificuldades
como venceu todas as intempéries possíveis e hoje trata-se de uma cena de
respeito, com luz própria. É muito bom ver as bandas daqui alcançando voos cada
vez mais altos, mas ainda assim mantendo os pés no chão e sem esquecer de sua
base Underground (com exceção daqueles que se deslumbram com qualquer coisa, é
claro), e espero que esse quadro esteja sempre em constante evolução para que
todo o mundo conheça o poder que o Metal nordestino tem. Exemplos não faltam: Sanctifier, Decomposed God,
Obskure, Poisonous, Heretic Execution, Morbid Perversion, Bastard, Eternal
Sacrifice, Behavior, The Cross, Second Face, SOH, Veuliah, Expose Your Hate,
Martyrdom, Escarnium, Malefactor, Inner Demons Rise, Insaintfication, Deformity
BR, Facada, Keter, Unborn, Malkuth, Inside Hatred, Divine Pain, Devouring e por
aí vai…
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Headhunter D.C. - Abril Pro Rock 2015. Foto por Tapa Olho Imagens |
RC/TGZ
- Não há dúvidas de que o Headhunter D.C. vem influenciando muitos nomes pelo
Brasil e exterior, prova disso é o lançamento dos álbuns-tributo “Born To Punish The Skies...”, que foram
lançados em dois volumes e reuniram dezessete bandas em cada CD. Pode descrever
a emoção dessa homenagem?
Sérgio:
A
emoção é grande, cara, e a honra, maior ainda. É quase indescritível a sensação
de ter dois CDs lançados em homenagem e reconhecimento à sua banda, e o que é
ainda mais ‘fodido’, com tantas versões de suas músicas com uma imensa
qualidade, e não estou falando apenas em qualidade de gravação, mas de
criatividade e performance também, de versões que nos fazem sentir que foram
feitas a partir do mesmo princípio do qual as músicas originais foram criadas:
da paixão pela música negra da morte, sem a qual nada do que se é feito soa
100% real. Acho que conseguimos expressar esse sentimento com exatidão através
dos textos escritos por mim (no volume 1)
e pelo Paulo Lisboa (no volume 2), através
dos quais também contamos um pouco da nossa história sob uma ótica não
encontrada nas conhecidas biografias da banda. Cada uma dessas bandas contidas
em ambos os volumes nos passaram muita verdade com suas versões, até porque são
bandas que possuem um vínculo muito próximo de nós, são bandas irmãs, que
possuem ideias e ideais basicamente iguais aos nossos, e isso também pesou
bastante na escolha de cada uma delas, independente de serem fãs ‘diehard’ do
Headhunter D.C. ou de serem diretamente influenciadas por nossa música.
Aproveito o espaço para mais uma vez agradecer ao Sérgio Tullula da Mutilation
Records, que foi o idealizador do projeto, pelo sempre grandioso suporte e por
ter não apenas acreditado no lançamento, mas dado a ele um capricho gráfico
pouquíssimas vezes visto em lançamentos dessa natureza, principalmente em se
tratando de uma banda 100% underground como a nossa. A todos só posso dizer que
confiram ambos os volumes e não se arrependerão. Morte total 666% garantida!
RC/TGZ
- Como você reagiu ao convite para participar do processo produtivo desse
trabalho?
Sérgio:
Eu
achei bastante natural que eu tenha sido convidado para coordenar o tributo,
pois apesar de não se tratar de um lançamento nosso, mas sim uma compilação com
outras bandas, cada um dos CDs estaria emanando puro Headhunter D.C. quando
estivesse sendo colocado no player ou tendo seu booklet folheado, então nada
mais natural que fosse algum de nós que estivesse envolvido nesse processo.
Headhunter D.C. Foto: Frederico Neto |
Sérgio:
Com
certeza, cara, e a parte ruim nisso é que inevitavelmente em alguns casos
alguns textos tiveram que ser editados por conta de falta de espaço – e olha
que cada banda teve uma página inteira para seus depoimentos, fotos, logotipos,
fichas técnicas, infos de ‘lineup’ e contatos, algo provavelmente jamais visto
em se tratando de álbuns-tributo –, mais uma desvantagem do formato CD! Mas
procurei preservar ao máximo o contexto de cada um dos depoimentos sobre a
banda – a não ser quando tinha alguma estória queimando nosso filme, aí não
teve jeito, tínhamos que cortar mesmo! (muitos risos)
RC/TGZ
- Nota-se que no primeiro volume, cinco bandas de outros países dividiram o CD
com doze bandas brasileiras, enquanto que no segundo volume, apenas um grupo
estrangeiro – Necroccultus do México – está no álbum com mais dezesseis grupos
locais. Houve alguma razão para o Volume
2 não ter saído um álbum exclusivamente de bandas nacionais?
Sérgio:
Coordenar
e produzir uma compilação com muitas bandas, seja tributo ou não, é algo muito
prazeroso para quem realmente aprecia esse envolvimento com várias bandas ao
mesmo tempo, como foi o meu caso, mas ao mesmo tempo isso requer uma certa
paciência, pois são diferentes bandas que demandam diferentes ‘deadlines’, que
lhe dão um ‘feedback’ em prazos diferentes, enfim, e isso acabou comprometendo
um pouco a programação inicial do lançamento do tributo, tanto que o Volume 2 demorou dois anos para ser
lançado em comparação à data de lançamento do Volume 1 –, e isso deveu-se também à desistência (ou mesmo sumiço)
de algumas bandas por diferentes motivos, inclusive algumas estrangeiras que já
haviam confirmado suas participações, o que acarretou na convocação de outras
bandas para fazer as substituições, e assim, consequentemente, mais tempo foi
gasto até que o CD fosse finalmente lançado. O critério usado para a inclusão
das bandas em ambos os volumes foi mesmo o de ordem de entrega de seus
respectivos materiais, sem uma programação específica pré-marcada. No final, ‘entre
mortos e feridos salvaram-se todos’, e o resultado do trabalho me agradou
bastante.
RC/TGZ
- O espanhol Juanjo Castellano, que desenhou a capa de “...In Unholy Mourning...” (2012), também criou a arte para os
álbuns-tributo. Isso foi uma indicação sua ou foi uma surpresa como parte da
homenagem?
Sérgio:
Foi
uma indicação minha mesmo, e deveu-se ao excelente resultado adquirido em “...In Unholy Mourning...” Mais uma vez o
mestre Castellano absorveu a ideia da arte de forma brilhante, colocando
aspectos de cada um de nossos lançamentos para dar forma àquela escultura
profana da capa, exatamente como nossa ideia original. Muito provavelmente
deveremos trabalhar com ele novamente para a capa de nosso próximo álbum.
RC/TGZ
- Com este trabalho, o Headhunter D.C. entra para um quadro de bandas
homenageadas em álbuns-tributo que estão em plena atividade, como aconteceu com
a Dorsal Atlântica no álbum “Omnisciens -
Tributo Ao Dorsal Atlântica” (1996), onde, inclusive, vocês participaram
tocando Álcool.
Sérgio:
Sim,
e isso é mais um motivo de orgulho para nós, como se não bastasse toda a
grandeza dos dois volumes do tributo, incluindo aí as grandiosas participações
de cada banda neles contidas. Como disse na época do lançamento do volume 1, não é muito comum vermos
lançamentos como esse em homenagem a bandas do Underground, principalmente na
época em que esse tipo de lançamento esteve mais em voga, que foi no final dos anos
noventa e começo dos anos dois mil. Nós mesmos, além do já citado tributo ao
Dorsal de 1996, participamos também de outros álbuns-tributo, como ao Morbid
Angel (2000) e Kreator (2001), ambos pela Dwell Records dos EUA, que era
provavelmente o selo que mais lançou tributos no mundo e, mais recentemente, ao
Mortem do Perú (Heavier Records, 2010), que junto com a gente é das mais
antigas bandas em constante atividade da América do Sul e que vem quebrando
esse paradigma de que apenas bandas do ‘mainstream’ merecem ganhar uma
homenagem desse porte, portanto vermos uma homenagem como essa para uma banda
como a nossa, de Death Metal, do Underground e ainda por cima em plena
atividade é algo de uma honra e importância imensuráveis para nós.
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“Death Kurwa! - Live In Warsaw 2013” (Bestial Invasion Recs/2016) |
Sérgio:
Na
verdade “Death Kurwa! – Live in Warsaw
2013” não foi nem de longe um álbum programado. Como pode perceber, não é um
disco gravado profissionalmente e nem possui uma grande qualidade de gravação,
mas que de alguma forma merecia ser lançado e disponibilizado aos fãs por se
tratar de algo histórico na carreira da banda. O CD foi lançado principalmente
para acompanhar a última edição de jubileu do legendário Necroscope Zine da
Polônia a convite de nosso grande amigo e velho apoiador da banda na Europa,
seu editor Adam Stasiak, mas acabou sendo lançado oficialmente pelo selo
escocês Bestial Invasion Records e também pode ser adquirido de forma avulsa.
Logicamente que ainda não é o álbum ao vivo definitivo do Headhunter D.C.,
digamos que se trata de um ‘bootleg’ oficial (se é que podemos assim chamar... ‘risos’),
mas é algo que fiquei muito satisfeito pelo seu contexto e importância histórica,
principalmente por ser um registro de nossa primeiríssima turnê europeia, então
ele tinha que ser lançado. O resultado é esse aí que está em suas mãos: pesado,
sujo, alto, cru, com a verdadeira atmosfera underground e sujeito a todas as
possíveis falhas e imperfeições técnicas de um verdadeiro show de Death Metal
Underground, orgânico e feito com sangue nos olhos. ‘Definitely no fucking overdubs
here’! (risos)
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RC #181 (Fev/2014) |
Sérgio:
O
show de Portugal no SWR realmente foi um dos pontos altos daquela turnê, quando
tocamos na mesma noite que o Onslaught, Pentagram (EUA), Belphegor e que ainda
contou com o Possessed na noite seguinte, e inclusive foi transmitido ao vivo
pelo canal do festival no You Tube e a captação do áudio ficou bem acima da
média, mas infelizmente não conseguimos a filmagem em alta resolução.
Poderíamos até ter usado a filmagem num DVD oficial da banda, mas não rolou.
Uma pena. Também temos registros de áudio dos shows de Wermelskirchen na
Alemanha e de Montaigu na França, ambos também bem razoáveis, mas com algumas
falhas na gravação e sem possibilidade de mixagem por terem sido gravados em um
só canal. O de Wermelskirchen até que poderia ser aproveitado para esse
lançamento ao vivo por estar com uma qualidade melhor, mas o canal alternativo
para captação da plateia ficou cheio de ruído e não me foi enviado, então gravação
ao vivo sem se ouvir o público não dá, né? Felizmente nesse contexto o “Live in Warsaw” se superou, com a
participação dos mais loucos, bêbados e selvagens Metalheads poloneses. ‘Kurwa’!!! (risos)
RC/TGZ
- É uma pena a captação do show do Klub FonoBar não ter saído inteira. Caso
contrário, um dos maiores clássicos da banda, Am I Crazy?, e até outras músicas importantes, teriam entrado para
o ‘tracklist’ de “Death Kurwa! - Live In
Warsaw 2013”, estou certo?
Sérgio:
É
verdade. Como disse, esse ‘live’ foi captado de forma caseira, através de uma
câmera de vídeo, com o áudio totalmente ambiente, e infelizmente “Am I Crazy?” ficou de fora por algum
problema na câmera durante a filmagem, caso contrário ela certamente estaria no
‘tracklist’ do álbum, já que trata-se de uma música obrigatória em nossos shows
desde sempre. Caso houvesse sido uma gravação programada, outros clássicos da
banda certamente estariam incluídos, como “Winds
Of Death”, “Death Vomit”, “God’s Spreading Cancer...” e “Hail the Metal Of Death!”, então
aguardemos pelo ‘live’ definitivo do Headhunter D.C. em algum lugar do futuro –
e que seja muito em breve!
RC/TGZ
- Ainda sobre “Am I Crazy?”, essa
canção ainda não teve sorte de sair pelo menos completa em um lançamento ao
vivo, pois na versão em CD de “Brazilian
Deathkult Live Violence” (2002), relançada em 2013, a faixa até entrou como
bônus, mas é cortada antes do final da execução.
Sérgio:
Sim,
é uma canção recorrente nesse quesito! (risos) De qualquer forma, há uma versão
ao vivo de “Am I Crazy?” nas
reedições americana, peruana e brasileira de “God’s Spreading Cancer...” pra quebrar um pouco essa maldição... (muitos
risos)
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Headhunter DC - BMU 2016. Foto: Lukas Ellessar |
Sérgio:
Sempre
vimos o B.M.U. como um grande nome entre os festivais de Metal realizados no
Brasil, e a ideia de ser um evento exclusivamente feito com bandas nacionais
nos chamava ainda mais a atenção. Nossos irmãos conterrâneos do Malefactor já
haviam tocado no festival e nos passaram as melhores referências possíveis.
Ficamos extremamente satisfeitos, agradecidos e honrados pelo convite feito
pelo Richard Navarro para integrarmos o ‘cast’ dessa volta do festival, convite
este que se estende também no reconhecimento à banda perante o cenário nacional
por parte da produção, além do que fomos extremamente bem tratados tanto pela
produção quanto pelas demais bandas, mesmo apesar de termos sido a única banda
de Death Metal do evento, algo um tanto, digamos, inusitado em nossas experiências
em festivais. Espero que essa volta tenha servido para que o festival possa
mais uma vez manter-se ativo por anos à frente e que possamos ser convidados
mais vezes para integrar o seu ‘cast’.
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"Born...Suffer...Die" Edição especial 25 anos |
Sérgio:
Sim,
o ano de 1991 foi realmente mágico para o Death Metal, com alguns lançamentos
seminais para o estilo, vide “Blessed Are
The Sick” (Morbid Angel), “Like An
Everflowing Stream” (Dismember), “Cursed”
(Morgoth), “Dawn Of Possession”
(Immolation), “Mental Funeral” (Autopsy)
apenas para citar alguns poucos, e temos um enorme orgulho de termos lançado
nosso ‘debut’ naquele mesmo legendário ano entre tantos clássicos. Apesar de a
versão em CD ter saído em 2002, há muito tempo que o mesmo vinha sendo
novamente muito procurado pelos fãs, principalmente pelos mais novos que não
alcançaram nenhuma de suas duas edições existentes, portanto não existiria data
melhor para um relançamento especial do que no final de 2016 / início de 2017,
no 25º aniversário de lançamento do álbum e na vinda dos trinta anos da banda.
O CD sai numa parceira entre a Cogumelo e a Mutilation Records numa edição
especial de 25 anos em ‘digipack’ CD/DVD. Para comemorar essa data e lançamento
especiais, temos a ideia de incluir em alguns dos próximos shows algumas
músicas do álbum que já não tocamos há vários anos, como “Decomposed”, por exemplo.
RC/TGZ
- Em 2017 “God's Spreading Cancer...”
completa dez anos de lançamento. Quais os planos para comemorar esta marca?
Sérgio:
Cara,
cheguei a me assustar com a sua pergunta! Agora realmente me dei conta de como
o tempo está passando rápido. Parece que foi ontem! Mas enfim, acho que um
lançamento especial em ‘picture vinyl’ marcaria essa data tão importante de
forma majestosa, não acha?
RC/TGZ
- Seria uma ótima ideia, ainda mais que o Underground sempre tem um público
muito fiel. Por mais que as cenas se renovem, aquela base de fãs não
enfraquece, pois sempre há pessoas interessadas na vanguarda dos diversos
estilos de Metal. Pensando nisso, atualmente é comum encontrar fãs antigos do
Headhunter D.C. pelos shows?
Sérgio:
Essa
é a grande magia do Underground: a fidelidade de seu público, um público que
não se esquece de sua base primordial, que sabe que o Underground é o berço de
tudo, onde ‘nascemos’, nos criamos e certamente ‘morreremos’! Independente de
toda a tecnologia surgida nos últimos anos, como Internet, download, iTunes e o
‘caralho a quatro’, o maníaco do Underground sempre vai querer ter o material
físico de suas bandas preferidas, sejam quantas edições desses materiais
existam, e é justamente isso que difere o público do Metal Extremo Underground
do público de outros estilos (até dentro do próprio Metal) e é isso que o torna
tão especial e faz com que nossos esforços sejam totalmente voltados para ele. ‘É
isso que nos mantém vivos’! (‘Long Live the Death Cult’) É sempre um grande
prazer quando encontrarmos fãs da velha guarda em nossos shows, pessoas que nos
acompanham desde nossos primórdios, que adquiriram a demo através do correio ou
de troca de fitas, que trocavam cartas comigo, que compraram os LPs na época em
que foram lançados... isso é algo impagável! É claro que muitos ficaram pelo
caminho, sendo totalmente sugados pelo temido ‘monstro sist’, mas felizmente
ainda existem (e são muitos) aqueles que, como nós, lutam diariamente para
manter a chama do verdadeiro Underground inteligente – e não burro – acesa. A
esses, o meu mais profundo respeito!
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"... In Unholy Mourning" (Mutilation Recs/2012) |
Sérgio:
Promovemos
“...I.U.M.…” por quase cinco anos. O
resultado desse (quase) infindável ‘luto profano’ foram duas turnês nacionais e
vários shows avulsos pelo Brasil, uma turnê pela Europa e cinco diferentes
edições do álbum pelo mundo, entre CD, LP e cassete. Agora é hora de começar a
preparar o disco novo, e esse longo processo finalmente já começou. A parte
instrumental do álbum já está toda escrita e alguns textos já estão começando a
surgir. Os ensaios desse novo material se iniciarão a partir de Janeiro/Fevereiro
de 2017, o que nos leva a crer que, tudo dando certo, gravaremos o próximo álbum
no decorrer deste ano, mas uma coisa é certa: teremos um novo trabalho lançado
em 2017, no jubileu profano de trinta anos do Headhunter Death Cult.
RC/TGZ
- Para uma banda de Death Metal, trinta anos é uma longa jornada, e manter o
mesmo pique que vocês vêm mantendo durante todo esse tempo é algo para se impressionar.
A vida biológica tem se harmonizado com a vida na estrada e nos palcos?
Sérgio:
Realmente
são pouquíssimas bandas de Death Metal no mundo que conseguiram atravessar três
décadas ininterruptamente sem jamais tornarem-se ‘wimps’ e passarem a fazer
outro estilo que não o seu de origem. Quantas bandas nesse mesmo status nos vêm
à cabeça nesse momento? Mortem, Sadistic Intent, Malevolent Creation,
Nunslaughter, Master e talvez mais uma ou duas. Aqui no Brasil temos o Corpse
Grinder ainda ativo e que é da nossa mesma época, e temos o máximo de orgulho
de fazermos parte desse seleto time de guerreiros da morte que jamais traíram
seus princípios e conceitos originais. É claro que nossa vida biológica nem
sempre acompanha o pique e o furor de nossa vida, digamos, ‘deathmetálica’, já
não temos os mesmos dezoito, vinte anos de idade da época do “Born...Suffer...Die” nem os vinte e
poucos da época do “Punishment At Dawn”,
nem mesmo os trinta do “...And The Sky
Turns To Black...”, principalmente no caso do Paulo, Zulbert e eu, mas
seguramente que ainda temos muita lenha pra queimar, e é por isso que seguimos
firmes e completamente ativos em termos de shows e gravações. Se depender de
mim (ou pelo menos de minha vida ‘deathmetálica’) continuaremos tocando Brutal
Unholy Death Metal em cima de um palco por mais trinta anos!
RC/TGZ
- Outras contemporâneas de vocês como Tiamat, Rotting Christ e Samael evoluíram
seus temas para algo mais filosófico e expressivo em certa altura de suas
carreiras. Em contraponto e referente ao que você mencionou, o Headhunter D.C.
é uma das bandas de Black/Death Metal que evoluíram mais pelo lado brutal no
decorrer dos anos. Como você avalia essas diferentes características de
evolução?
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Headhunter DC ao vivo no PDR 2017. Foto: Rafael Almeida |
Sérgio:
Na
verdade eu acho que a essência ideológica da banda se manteve intacta com o
passar dos anos. Todo o questionamento sobre nossa existência e a resistência
contra as imposições da sociedade religiosa e hipócrita ainda estão lá, porém
com uma abordagem ainda mais extrema, anticristã, assim como o som também ficou
mais pesado, agressivo, violento. Como sempre falo, sempre aproveitaremos essa
dita evolução para tornar nossa música como num todo ainda mais brutal e
profana, já que, apesar do Death Metal ‘old school’ ser um estilo considerado
limitado por muitos (e em parte, sim, orgulhosamente o é), existe um vasto
universo de possibilidades de evolução dentro do próprio estilo sem que se
perca sua verdadeira essência. Muitas bandas que ‘evoluíram’ em sua parte
lírica acabaram também mudando completamente seu som, tornando-o mais acessível
e comercial, algo que jamais faríamos. Antes mudar o nome da banda do que vir a
maculá-lo algum dia. Anos mais tarde muitas dessas bandas acabam tentando uma volta
às suas raízes, mas aí, para mim, já é tarde. A ordem é justamente manter essas
raízes vivas, e não as renegar e depois tentar uma volta a elas. ‘No trends’!!!!!!
RC/TGZ
- Agradecemos e Parabenizamos à banda pela representatividade, história e
conquistas alcançadas. Deseja deixar uma mensagem aos fãs?
Sérgio:
Muito
obrigado! Esses trinta anos ininterruptos de carreira mostra, mais do que
nunca, que sempre trabalhamos sério e nunca estivemos nessa apenas por ‘hobby’,
e com esse trabalho sério e incessante lançamos álbuns relevantes para a cena
Death Metal mundial e não apenas nacional, mesmo que nem sempre esse
reconhecimento venha da forma merecida. Fizemos shows que ficaram marcados na
memória dos fãs e de nossas próprias memórias, sem falar em nossa postura
irrepreensível perante a cena, então acho que isso é parte do legado que o
Headhunter D.C. deixará: o de uma banda que não apenas tocou Death Metal em sua
forma mais genuína com todas as suas forças, mas que viveu o estilo em toda a
sua totalidade, musical e ideologicamente falando. E desde já, para aqueles ‘paraquedistas’
da cena, pseudo criadores de regras de internet, se realmente existem regras,
elas já existiam antes de vocês chegaram aqui, portanto vocês seguem, não
ditam, ok? Parafraseando o Napalm Death, ‘somos líderes, não seguidores’! Um
grande e brutal abraço a todos que comungam de nossas ideias e ideais, em
especial aos nossos fãs que possuem uma importância enorme nessa longa jornada.
Muito grato por todo o poderoso suporte ao longo dos anos! Aguardem o novo
álbum! Nosso culto é eterno! ‘All Hail’!!!!
Mais informações acesse: facebook.com/HeadhunterDC // headhunterdc.net // myspace.com/headhunterdc
Headhunter DC ao vivo no PDR 2017.
Foto: Rafael Almeida |