14 de maio de 2015

Banger Expression: O preconceito em associar o culto ao Heavy Metal a adolescência, entre outros erros comuns...

"Vlad, você ainda ta nessa?"

Então, esta é uma das perguntas mais vazias e repetidas a mim por mais de duas décadas. A resposta "baianês" seria o famigerado: LÁ ELE!


Mas, percebo que a conotação é fortemente calcada em alguns preconceitos, e dois me saltam aos olhos: Ligação imediata de música pesada à adolescência, e arte com dinheiro. Arte sem plástica.

Em um país com péssima seleção musical, e nisso meu preconceito torna-se conceito debatido, na maioria das rádios e TVs, com suas músicas apelativas, letras de fácil decoreba e por muitas vezes feitas só e somente para o remelexo desenfreado (e notem que não crítico a dança em si, viva Luiz Gonzaga com seu ritmo vivo e suas letras, muitas delas, fantásticas), fica difícil, até mesmo para os “cultos” entenderem que a arte underground é MUITO MAIS do que somente mercadológica.

Que a “barulheira”, transforma-se em emoção para um número "seleto" de admiradores. Arte muito explicada me cheira à lavagem cerebral ou sublime arrogância da incompetência. Sempre aquela velha matraca de que devemos respeitar as diferenças, contanto que a diferença tenha regras. Quase nunca regras, se é que devem existir, artísticas.

Eu viajei como músico por quase todo este país, tanto nos famosos locais de cartão postal, como em regiões que muitos nunca se programaram para turistar e nem lembram que existe. Encontrei “metaleiros” em todos. Fui (quase) sempre muito bem recebido. Amizades que se tornaram irmandades além do sangue. Pessoas que me trataram com uma importância que nem mesmo eu me dou.

Toquei duas vezes em outro continente, como um iniciante, sob o olhar crítico dos Eurocentristas, e recebi aplausos e caras com estranheza, e a maior das homenagens nesta minha (ultrapassada linguagem midiática) “tribo urbana”, a bateção de cabeça e as mãos em formato do chifre no alto.

Ouvi, dentro das cenas, as mesmas frases vazias: “No Brasil se faz este tipo de metal”? Não me venham com aquela conversa de que é preciso divulgar mais. Quem quer, corre atrás. Uma criança de 5 anos usa um tablet melhor que eu. 

Você não vê artistas independentes no Faustão (ainda bem). De vez em quando rola uma pequena brecha aqui e ali, mas, sinceramente, prefiro algumas sombras. Elas estarão sempre ali. O clarão vem, e some. Quem se vende por pouco, depois reclama quando seu trabalho é descaracterizado e estigmatizado. E nem tô dizendo que acho que valha grande coisa. Minha arte, sim.

Eu amo estar “nessa”. E tem sido assim por vinte e três anos com esta banda, e claro, paguei meu preço pela “teimosia” e paixão. Mas eu vivi e continuo vivendo momentos mágicos. Que pena para quem está fora dessa, envolto no senso comum da arte do verão, cheio de certezas, e ouvindo somente os discos que “ficam bem na fita” dizer que ouve.

Parecem-me aqueles quadrados que vomitavam proibições quando da chegada da guitarra elétrica na MPB. Os ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam, não.

Todo respeito aos artistas independentes. E pra você que continua com estas certezas, e que parece um macaco com epilepsia quando vai “imitar” um músico de heavy metal, só uma pergunta:
Você ainda ta nessa?

*Lord Vlad é vocalista da banda Epic Black Metal Malefactor.