19 de janeiro de 2015

ERASY (Feira de Santana/BA - Brasil)

Essa é uma daquelas longas entrevistas em que muitos não perderão seu tempo para ler. 

Logo, nem click neste link se você for só mais um viciado em redes sociais.

A Erasy é uma banda formada pelo romantismo de alguns malucos pelo passado paranoico da música pesada.

E nessa conversa com o Luciano Penelu (vocalista da Erasy), debatemos alguns assuntos pertinentes com relação à banda e também a vida em si!

Uma conversa com inicio e meio, pois ela dá espaço para que qualquer outro entrevistador continue numa próxima entrevista, questionando algo que não foi relatado aqui.

Portanto, se pretendem ler, então leiam com bastante atenção este inicio de carreira (para bom entendedor, a palavra CARREIRA diz muita coisa)...




TGZ: Então Luciano... A Erasy é uma banda nova no cenário, mas devido a sua musicalidade, já conseguiu atrair um público “relativamente fiel” por assim dizer. Sendo perspicaz, você acredita que mesmo com pouco tempo de estrada, o caminho que vocês estão trilhando é o certo ou pretendem fazer algum tipo de mudança futuramente, como por exemplo, incluir novos elementos a música de Erasy?

Luciano Penelu: Em primeiro lugar, gostaria de agradecer, em nome da Erasy, ao ThunderGod Zine. Este respeitado meio de circulação underground faz parte da história do Metal em nossa região, e a ele e toda a sua equipe devemos admiração e respeito. Falando agora sobre a Erasy, somos realmente uma banda nova, com menos de dois anos de trajetória. Não podemos dizer que o caminho que estamos seguindo é o definitivo, mas até agora tem sido muito natural, talvez fruto das influências em comum entre os integrantes da banda. Nos últimos meses, a Erasy vem ganhando uma feição própria, e estamos muito satisfeitos com ela. Acredito que mudanças podem ocorrer sim, mas penso que elas devem surgir para contribuir ainda mais com esta “feição” que estamos dando ao nosso som.

TGZ: A análise que fiz na pergunta inicial foi algo proposital, pois na música “Hollow” (que foi o segundo single divulgado na rede) vocês utilizaram um instrumento arcaico, que a meu ver, deu um diferencial ainda maior na proposta musical da Erasy. Sendo assim, a ideia não é atrair um público em especifico, concorda?

Luciano: Uma coisa interessante sobre a Erasy é que a proposta de criar a banda surgiu, em primeiro lugar, como uma maneira de integrar amigos. Wendell Fernandes (ex-guitarrista e fundador do projeto) é amigo meu e de Léo Carvalho (guitarrista) de longas datas. Wendell também é amigo de Joilson Santos (baixo) e Alan Magalhães (bateria), então, numa sacada muito boa, ele conseguiu aglutinar para o projeto da Erasy esses dois grupos de amigos, com influências no Metal muito diversas, mas que se entendiam muito bem em um ponto específico: ouvir Black Sabbath e tomar cerveja. A partir daí, construímos uma integração excelente entre nós, e as ideias e composições foram surgindo e seguindo essa linha alcoólica e sabática. Acho que o público que conquistamos consegue perceber a presença marcante desses dois elementos, e se identifica com eles. Aliás, acho que praticamente todos os Metalheads pelo menos reconhecem a importância do Sabbath para tudo o que fazemos, então, isso nos aproxima de muita gente que gosta de música pesada e conhece as suas raízes. A fórmula que utilizamos é velha, e não estamos querendo reinventar a roda: por enquanto, o lance é tocar e se divertir.

TGZ: Interrompendo... É bom falar também que vocês além de serem amigos, são envolvidos em outros projetos relacionados à música pesada aqui na cidade: Joilson é o baixista da banda Clube de Patifes, Alan é o baterista da banda MetalWar, Léo Carvalho é o guitarrista da banda cover do Pantera, e você é o vocalista da também banda cover do Pantera. Isso significa que além da correria do dia-a-dia com trabalho, estudo, família... vocês ainda se dividem em outros projetos anteriores a Erasy, o que acho que deve tornar a vida de vocês ainda mais corrida e deve dificultar um pouco encontros para ensaios, gravações e tals.

Luciano: Sim, realmente. Não é fácil manter um projeto com as ocupações que temos, mas creio que esta é a mesma dificuldade encontrada por todo mundo no underground. Tentamos, e temos até conseguido, reservar um horário na semana para a banda, para ensaiar, compor, pensar em novas ideias, etc. É o momento também de tomar uma cerveja, conversar um pouco. Estes momentos acabam sendo muito produtivos para nós.

TGZ: Sei que algumas das bandas que inspiram a proposta de vocês, também utilizaram a gaita como forma de “estilizar” ainda mais suas composições. Fora que no caso de vocês, eu achei que a inclusão deste instrumento ficou perfeita, pois foi encaixado de forma sutil, assim, não atrapalhando o clima arrastado/pesado que a música possui.

Luciano: A gaita em “Hollow” foi uma contribuição do grande Pablues, do Clube de Patifes. A ideia de incluí-la surgiu durante os ensaios, quando percebemos que esta música (como quase todas as nossas até agora) é fortemente influenciada pelo Blues, gênero, aliás, que está nas raízes do Metal.

TGZ: Geralmente vocês são “acusados” pelo público de seguir aquela linha mais sabbathical do estilo. Isso não é algo fora do contexto, pois estamos falando do inicio de tudo quando nos referimos à música pesada/arrastada. Todavia, em qual estilo você acha que se enquadra a Erasy musicalmente falando?

Luciano: Como eu disse acima, e como você bem colocou aqui, não podemos (e não queremos!) fugir da inspiração do Sabbath. Agora falando diretamente em estilo, esta é uma coisa que nos confunde ainda um pouco. Talvez sigamos uma linha entre o Doom, o Sludge e o Stoner Metal.

TGZ: Eu tenho a ideia de que a Erasy tem uma veia mais puxada pro clima psicotrópico do estilo. Um exemplo: como fazem os membros nóias da banda Electric Wizard. Mas nas letras (até onde entendo) o Electric Wizard puxa mais pra um lado da existência com o uso de alucinógenos e o ocultismo/luciferianismo tradicional, o que difere da forma lírica que compõe a Erasy.

Luciano: Você citou uma banda que com certeza é influência para nós! Ela e outras que admiramos, como Acid King, Dopethrone, Eyehategod e Bongzilla trazem esse som e essa temática das drogas e das viagens psicodélicas em suas obras, o que achamos muito apropriado para a linha de Metal que fazem. A nossa, apesar da influência, talvez esteja mais ligada diretamente ao álcool e à solidão. Na verdade, é tudo muito próximo, o que muda é a substância utilizada, hehehe. Falando das drogas, o foco no álcool talvez seja uma influência do Blues, e do que ocorre em nossas próprias vidas.

TGZ: Certamente o uso contínuo das drogas tenha muita influência nas composições das bandas que citamos. Inclusive, os membros da Electric Wizard (o próprio nome Electric Wizard já traduz uma viajem muito densa) são usuários assíduos da maconha e da cocaína. Além também, de fazer apologia ao uso de tais substâncias (o bizarro vídeo clip da música “SadioWitch” mostra bem este clima, confiram: youtube.com/SadioWitch), assim, atraindo um número maior de indivíduos para sua atenção. Não estou querendo ser sensacionalista, mas somos sensatos em admitir que certos tipos de temática abusiva, são o que mais atrai o público. Fora que o uso de tais substâncias, acaba por se tornar uma inspiração para composições que se tornaram/ e se tornarão obras raras para música que escutamos num sentido “universal” da coisa.

Luciano: Sim! A inspiração através das drogas está nas raízes do rock n'roll, no blues e até no jazz. O Black Sabbath, pioneiro do metal, seguiu essa tradição, exaltando, sobretudo o consumo da maconha, e creio que essa linha de composição foi seguida por bandas como o Electric Wizard, que são claramente influenciadas pelo Sabbath. De fato a atmosfera entorpecida dessas bandas vai além das letras, passando também pela linha de som que produzem. Para mim, bandas como o Acid King conseguem transmitir esse clima muito bem. É impossível ouvir o disco “III”, por exemplo, e não imaginar os três integrantes da banda chapadões compondo as músicas. Eu acho isso fenomenal!

TGZ: O primeiro single a figurar na rede/superfície foi “Living Hell”, assim, atraindo os olhares dos entusiastas para com a Erasy. Este mesmo single deu origem ao promo que foi liberado junto com “Hollow” na primeira noite do evento Esvisceration Metal Fest que aconteceu no último dia 13 de 2014. Fazendo uma análise deste primeiro material em estado físico, vocês acreditam que conseguiram transmitir a sonoridade perfeita da banda para uma maior compreensão do público?

Luciano: Ficamos muito satisfeitos com o produto de nossas duas primeiras músicas, gravadas no Evolution Studio e mixadas por Jera Cravo. O som é simples, mas neste estilo que fazemos os timbres e os graves contam muito, e este trabalho foi muito bem realizado pelos parceiros envolvidos. Perfeito não foi, mas nos agradou muito. Espero que agrade também aos que ouçam!
(N. do Entrevistador: De fato a palavra perfeição não encaixa com as duas faixas divulgadas até o momento pela banda... ainda acho que seus vocais necessitam duma melhora, pois a timbragem soa meio que alternativa para mim. Também achei o som das caixas da bateria com muito triggers, o que me pareceu está batendo numa lata de tinta. Abusar muito dos recursos de estúdio acaba tirando aquela energia orgânica (feeling) que a música deveria ter, e tornando-a, algo definitivamente artificial/plástica!)

TGZ: Por sinal, numa das conversas que tivemos algumas semanas atrás sobre o Esvisceration, concordamos que a acústica do espaço não estava lá da melhores, o que prejudicou um tanto a apresentação da Erasy. Além também, do operador da mesa de som, que me pareceu não ter intimidade alguma com bandas pesadas. Ora quê, a qualidade do som como um todo, não estava bem dividida, o que prejudicou também muitas bandas participantes no evento em meu ver.

Luciano: É, o underground é isso aí mesmo, infelizmente. Muitas vezes somos forçados a contratar serviços e equipamentos de quem não tem a menor intimidade com o Metal, e isto prejudica um pouco eventos maravilhosos como o Esvisceration. Ainda bem que o público e a maioria das bandas já compreendem isso, e releva estes problemas. Claro que uma banda via de regra vai querer tocar em excelentes condições, com um som foda, mas a realidade quase sempre é outra.
(N. do Entrevistador: Bem, que o público percebe os problemas eu concordo, agora que revela os mesmos eu já discordo de você... Acredito que o maior dos problemas é justamente o  público, que percebe diversas falhas (como você mesmo citou) em eventos de grande porte, critica com alguns “amigos de confiança”, pois estes não irão fofocar nada com os organizadores do evento – porque assim você não perde respaldo com os Great Ones e pode continuar bajulando eles em redes sociais: curtindo, comentando, seguindo e compartilhando suas atualizações, e talvez, até sair abraçado numa foto recebendo uns tapinhas nas costas pela singela amizade. E quando os organizadores perguntam o que achou do evento, o tão majestoso público Metalhead fala que o evento foi foda, o melhor do país, o evento onde realmente respirava underground... pura demagogia.) 

TGZ: “Living Hell” e “Hollow” possuem andamentos bastante semelhantes, com uma diferença que em “Living Hell”, há passagens um tanto mais “frenéticas” do que em “Hollow” por assim dizer. Percebo que o peso numa linhagem mais arrastada é a premissa que vocês têm para compor as músicas da Erasy. Só que, com a saída de um dos guitarristas (Wendell Fernandes), vocês não acham que dará uma diferença nas próximas músicas a serem gravadas, assim como, nas apresentações em palcos, da banda?

Luciano: Este é um tema muito complexo. A saída dele, apesar de compreensível, e continuamos todos amigos, realmente foi complicada para a banda. Por enquanto, estamos conseguindo manter o projeto com 4 integrantes, mas estudamos a possibilidade de incluir um novo guitarrista. No entanto, essa inclusão, se ocorrer, será feita com muita cautela, pois, como a ideia é integrar amigos, não queremos colocar alguém que destoe muito do resto da banda, complicando algo que está funcionando muito bem. Fizemos dois shows com a atual formação, e ela nos pareceu satisfatória. Vamos ver o que acontece!

TGZ: Já que vocês estão fazendo um esquema de músicas com longa duração, queria saber qual a fórmula que será usada para que a sonoridade da Erasy não caia na mesmice? Questiono, pois já ouvi muitos materiais de bandas mundo afora se tornarem algo enjoativo, pois suas músicas eram longas e com mesmo andamento tornando o disco (ou até mesmo, um demo) algo cansativo/enfadonho...

Luciano: Esta é uma excelente pergunta. A questão de ser um determinado som enjoativo ou enfadonho é muito relativa. Diz respeito diretamente ao tipo de Metal que cada um prefere ou aprecia. Bandas como Dopethrone, por exemplo, apostam justamente em músicas repetitivas, com dois riffs. É uma coisa comum neste estilo! Mas quando se fala num disco, num conjunto dessas músicas, mesmo repetitivas individualmente, creio que é necessário ter um pouco de alternâncias de andamentos, etc. Estamos trabalhando neste sentido em nossas composições, que pretendemos gravar no próximo ano.

TGZ: Continuando na linha de raciocínio do promo liberado... eu não tenho uma ideia concreta a respeito do contexto lírico/escrito de ambas as faixas deste promo. Contrapartida, acredito que ambas devam ter uma inspiração vinda com as experiências adquiridas no meio social que vocês vivem! Isso implica quê: "Living Hell" não fala sobre o melhor amigo da instituição religiosa (Satanás) que influencia as massas, correto?

Luciano: "Living Hell" trata de nosso cotidiano, da época em que vivemos, de cidades cheias de gente, mas com poucos seres humanos de verdade, da influência terrível das igrejas na deformação das pessoas, da massificação, do consumismo, e todo tipo de mazelas que nos fazem perceber que os religiosos passam a vida inteira com medo do inferno, mas este castigo já existe, e é esse que todos nós enfrentamos todos os dias. "Hollow", por sua vez, fala da miserável vida de um solitário e beberrão, abandonado pela mulher e por todos que conhece. Um exemplo do homem contemporâneo, que baseia sua existência nos outros e em coisas sem importância, ao invés de tentar compreender-se a si próprio e criar sua própria realidade. Apartado do convívio com aquilo que dava sentido à sua vida, nada sobra, apenas o álcool, a solidão e o desespero.

TGZ: Neste mesmo contexto, o que você (em particular) pensa a respeito das instituições religiosas mundo afora e seus dogmas empregados às pessoas como forma de acreditar em algo após a morte? Você acha que de alguma forma, seu modo pessoal de pensar, é compartilhado pelos outros membros da banda em comum? Ou seja, influenciando na proposta artística da Erasy?

Luciano: Eu acho que a Religião é uma forma de se buscar a compreensão sobre aquela parcela mais sutil da existência humana, a que não é acessível de maneira simples como as coisas que compreendemos através dos sentidos, por exemplo. Faz parte da natureza humana não contentar-se com a morte. De uma forma ou de outra, todos buscamos ir além da efemeridade de nossos frágeis corpos. A arte, a filosofia, a religião, são maneiras que encontramos para lutar contra a morte, deixar um legado, tentar entender aquilo que somos, ou mesmo suavizar nossa consciência diante do abismo que é a morte. Eu prefiro as outras formas de se buscar esta elevação, mas há quem prefira a religião. Ela não é necessariamente uma coisa ruim, conheço religiosos que estudam outros temas, que procuram ampliar o limitado horizonte fornecido por suas crenças. O problema maior está nas pessoas, que se comportam como cordeiros e aceitam tudo sem questionar.  É do sangue delas que se alimentam os vampiros-pastores de nossa época. De certa forma, a religião, indiretamente, acaba contribuindo para toda essa alienação que é marca de nosso tempo, e isto sim é uma coisa muito negativa. Os outros integrantes da banda também não me parecem religiosos, então não existe divergência neste sentido dentro da Erasy.
(N. do Entrevistador: Eu também não acho que a religião seja algo ruim, muito pelo contrário... Quando vejo varias pessoas aterrorizando, roubando, persuadindo, matando, morrendo em nome da religião, acho isso perfeito, pois cada um tem o que merece, e já que a religião é o ópio da humanidade, nada tão justo do que a retribuição que ela traz para sua vida insignificante. Independente de você ser um fanático ou não, a sua “suposta crença” lhe transforma, guardando em alguns momentos, seus desejos mais sórdidos, que são despertados numa forma ainda mais doentia quando seus ânimos estão exaltados. O ser humano é miserável por natureza, e a religião é um mal mais que necessário. Já que a própria fábula diz que o pai sacrificou seu filho para salvar essa raça, como você acha que seria a índole da mesma e suas benevolentes criações?) 


TGZ: Algo que fiquei encucado também foi à palavra Erasy. A qual eu não sei de onde vem, e o seu significado. Claro. Achei algo bastante original, mas confesso que tentei assimila-la com a palavra em inglês Heresy, acreditando que vocês apenas havia tirado o H da palavra. Mas acho que não encaixou muito bem. Explique...

Luciano: Justamente! O nome foi uma sacada de Wendell, que brincou com duas palavras em inglês: Heresy (heresia) e Erase (apagar). Acho que ele encontrou uma maneira criativa para escrever Heresy, a exemplo do nome da banda Eyehategod, que deve ser lido mesmo como I hate god. Nós particularmente gostamos muito do nome, hehehe.

TGZ: Mas o que o significado desta palavra envolve tanto nos climas das composições (letra, instrumental...), quanto nas pessoas por trás da banda?

Luciano: Como nas letras abordamos muito o tema da religião em uma perspectiva mais secular e até mesmo herética, o nome é bastante apropriado. Nós, integrantes, fizemos uma pequena reunião quando a banda era apenas um projeto para discutir o nome, e como mantivemos a ideia concebida por Wendell, penso que todos concordam com ela e com a temática de nossas músicas.

TGZ: Eu achei a parte gráfica de "Living Hell" um tanto esquisita/inusitada. Na capa existem pessoas (traços delas) juntas num só espaço. Isso significa (de acordo ao titulo do promo) que os indivíduos estão vivendo o inferno??? Na minha analogia sobre a capa, não é um inferno abstrato (o após a morte como as paródias impostas pela religião dos desertos explicam), mas sim, algo realista, o do meio social em que vivemos. Acredito que o artista que fez a capa devia estar numa vibe muito louca quando começou a ideia.

Luciano: Exatamente! O autor da capa foi Wendell, e tivemos justamente a intenção de retratar aquilo que comentei numa pergunta mais acima, quando você questionou sobre a temática de "Living Hell". É a multidão de nossas cidades, é o vazio das pessoas que levam suas vidas como um rebanho indo irremediavelmente para o abatedouro, sem nem se questionar quanto à natureza do curral em que vivem ou como seria a melhor forma de encarar a morte certa.

TGZ: Já que estamos falando de “inferno terreno”, você não acha que devido ao contingente de pessoas que há no planeta, o homicídio deveria ser algo liberado? Falo isso porque há muitas pessoas estúpidas no mundo e acredito que não seria algo ruim para diminuição da população que “não produz”, apenas polui o seu dia com uma presença nada agradável. Basta ver a quantidade de vídeos caseiros e perfil social que rolam no youtube, whatsapp, facebook... já que hoje em dia todo mundo é artista e tem o “poder” para se expressar livremente através da fibra ótica.

Luciano: Não penso sobre isso de uma maneira tão radical. Vivemos em tempos difíceis, e estamos acompanhando diariamente a degradação da humanidade, mas creio que isto não é algo que pode ser resolvido pelo homicídio. Estaríamos assim tentando modificar a animalidade de nossa época através de uma barbárie. Mesmo com todo o contingente de seres humanos vazios, sem ideais e alienados, não podemos negar que temos hoje um acesso muito maior à cultura e ao saber, que tudo que se produz no mundo hoje está aí para ser contemplado quase simultaneamente à sua produção. Através da mesma internet que transmite as imbelicidades que você menciona, podemos ouvir a música do mundo inteiro, ler livros que outrora eram raridades e discutir ideias com interlocutores de todas as partes do globo. Acho que pessoas estúpidas sempre existiram e sempre existirão, mas se hoje estão em maior número creio que isto faz parte de uma estratégia de utilização e de dominação das massas por parte do sistema capitalista no qual nos inserimos. Pensar não é exatamente o que se espera de nós, mas sim consumir. Não é que eu tenha esperança, mas, quem sabe, tudo isto pode ser modificado num futuro mais ou menos próximo.
(N. do Entrevistador: Temos cerca de 7 bilhões de pessoas no mundo. Pesquisas cientificas apontam que em 20 anos (ou menos) teremos mais de 12 bilhões de pessoas no planeta. Por mais que pareça que este globo possua espaço suficiente para este contingente de humanos, mais pessoas nascem, crescem... Ou seja, a taxa de natalidade é gigantesca, pois nota-se que cada casal gera duas pessoas (ou mais de duas), que geram mais 4 pessoas, que geram mais 8 pessoas, e estas pessoas geram mais 16 pessoas, e assim sucessivamente. Logo é fácil notar que o caso aqui não é uma multiplicação, mas sim, uma potenciação de pessoas, o que ocasiona numa enorme degradação dessa tão maravilhosa espécie (chamada de design inteligente) criada pelo todo-poderoso senhor abstrato! O homicídio apesar de não ser liberado – infelizmente – é algo comum no mundo. Em nossa cidade o índice de pessoas assassinadas chega a ser entre 3 a 5 pessoas por dia. E já que a taxa de natalidade não é controlada em nosso país (e também em outros países), nada tão justo do que o homicídio para controlar o crescimento exorbitante da população. Lembro-me duma bela frase de um dos filósofos de nossa época que traduz o que digo nessa máxima: “Para onde quer que olhemos tropeçamos no humano, repulsiva ubiqüidade”.)  

TGZ: Pra não perder nosso foco (que é a Erasy) eu quero saber qual a ideia por trás da logomarca da banda. Mesmo que não tenha ideia alguma em especifico, percebo que ela nos remete aquele clima antigo, traduzindo: bizarro, mortuário da década de 60 pra cá. Algo bem sombrio, psicodélico, que faz uma alusão às bandas e artistas que se inspiravam nas suas experiências com uso de entorpecentes como forma de se distanciar duma realidade um tanto dolorosa do que o sucesso os traziam. Digamos que isso seja uma realidade pra logomarca de vocês?

Luciano: Wendell foi o criador da logo. Certamente ele foi buscar nas bandas que citei como influência a inspiração para fazê-la. Não sei se foi o caso, mas penso de cara no "Master of Reality" do Sabbath, até pela cor da logo. Acho que essa nossa logomarca vai muito mais pela estética do som e das bandas que nos espelhamos do que propriamente por alguma influência ideológica.

TGZ – É uma logomarca bem elaborada pelo que notei, e me parece que o artista já tem bastante experiência em criação de logomarcas com um clima antigo/sombrio. Claro que a visão de vocês de como queriam a arte também conta, assim como o apelo da tonalidade roxa usada para definir a figura.  Mas honestamente, o sujeito que fez a logomarca da Erasy fuma uma pedinha/kryptonita hein???

Luciano: Hehehe! Acho que ele não fuma uma pedinha não! É como disse acima, creio ser uma influência estética mesmo.
(N. do Entrevistador: Uma pedinha pode até ser que ele não fume (ainda!), mas certamente ele deve usar alguma droga ilícita que o faça viajar de tal maneira a criar essas nóias, artisticamente falando.)

TGZ: Interrompendo novamente... Tendo em vista que o Wendell foi o fundador da Erasy, deu origem ao nome da banda, elaborava a parte gráfica, fez a criação da logomarca, fazia parte das estruturas das composições, e assim por diante, você não acha que será complicado encontrar alguém que se dedique dessa forma a Erasy? Não falo apenas em encontrar um excelente guitarrista e que seja amigo de vocês, mas sim, alguém que possua qualidades semelhantes e que possa não apenas somar, mas multiplicar o conteúdo da banda.

Luciano: Sem dúvida! Este é um grande desafio, e é por isso que respondi acima que incluir alguém na banda é algo que será feito com muita cautela. Como você disse muito bem, precisamos de alguém que tenha um mínimo de sintonia com os outros integrantes, e que venha para multiplicar mesmo, que nos ajude a compor, que conheça e escute o som que nos influencia, etc. É complicado, mesmo. Do que adianta um guitarrista virtuoso que não conheça um mínimo sobre Doom e Sludge Metal? Ou, o contrário, que goste dessa linha de som, mas não tenha habilidade nenhuma nas cordas? É algo extremamente complexo! Mas, com o tempo, creio que a melhor solução vai surgir.

TGZ: Lembro-me que foi cogitado num dos encontros de vocês da Erasy e os membros nóias da Martyrdom, uma ideia para um Split Martyrdom/Erasy. Não sei as quantas andas esta proposta, mas sei que seria um lançamento interessante, pois mesmo sendo duas bandas de diferentes estilos; já que a Erasy segue uma linha mais “slow” e a Martyrdom uma linha mais rápida com atmosfera obscura com o uso do teclado, há uma semelhança na parte ideológica de ambas as bandas. 

Luciano: Martyrdom é uma banda que admiramos muito! Ter um Split com eles seria uma honra para nós. É uma ideia que foi levantada, mas que ainda não conseguimos concretizar. Realizar essas coisas no underground requer tempo, e, sobretudo dinheiro, hehehe. Contudo, acho que este projeto deve continuar de pé, e quem sabe se realize num futuro não muito distante. De fato, temos uma semelhança temática, ainda que leve. E nós pretendemos homenageá-los em breve, incluindo “A Verdadeira Inquisição” em nosso repertório.