14 de agosto de 2012

Conan, O Cimério

Conan, o cimério, ou para muitos, Conan, o bárbaro, foi criado pelo texano Robert Erwin Howard em 1932, três anos depois dele ter criado outros dois personagens que viriam a ser famosos dentro do universo onde Conan habitava, ou seja, o lendário rei Kull e a guerreira Sonja...



Mas falemos do bárbaro de pele bronzeada, cabelos compridos, de olhar sombrio assolado por gigantescas crises de melancolia e jovialidade que surgiu na época imaginária em que os mares sorveram Atlântida e os vislumbres de cidades, e anterior a época do surgimento dos Filhos de Aryas, em que os reinos de esplendor se espalharam pelo mundo como miríades de estrelas sob o manto azul dos céus em terras como a Nemédia, Ophir, Brithúnia, Hiperbórea, entre tantas outras como Zamora, com suas mulheres de cabelos escuros e torres assombreadas por aranhas misteriosas; Zíngara e a sua nobreza; Koth, fronteiriça com as terras pastoris de Shem; Stygia, com as tumbas vigiadas por fantasmas; Hirkânia, e os cavaleiros vestidos de aço e seda e ouro, e o reino mais orgulhoso de toda aquela época: Aquilônia, soberana do Ocidente sonhador.
Bêlit

As cidades citadas acima faziam parte de um mundo imaginário que teria datamento histórico no período neolítico e que antecedeu o último degelo glacial. Divulga(va)-se amplamente que a Era Hiboriana, onde Conan e Sonja viviam, existiu há cerca de 12.000 anos A.C. e que o rei Kull vivia 8.000 anos antes deles, na Era Thuriana. Alguns pesquisadores da mitologia do Conan especulam que ele teria vivido cerca de 35.000 anos antes de nossa época e que Kull teria vivido a 100.000 anos, mas uma coisa é muito marcante em relação a civilização hiboriana: ela começa ou termina na época da submersão da Atlântida. Algumas incertezas acontecem na história da humanidade e sempre novas coisas são descobertas dentro daquele período ou fato histórico e o mesmo se aplica ao universo imaginário. Mas há 100.000 anos era a época do Homem de Neandertal que sendo extinto pelo homo sapiens que veio da Asia acabou dando lugar ao surgimento ao homem de Cro-magon, muito parecido com o Homo sapiens atual, que tem um sapiens a mais na denominação. Mas deixemos o papo antropológico de lado e imaginemos que havia humanos como nós nas épocas criadas por Howard, que foi praticamente o fundador do estilo Espada e Magia.Howard ganhou seu primeiro salário como escritor aos 15 anos de idade e para criar seu universo aos poucos pesquisou nomes antigos, civilizações e misturou tudo isso no universo de Conan, que abrangia a idade média, mitologias antigas, aspectos da época do império romano e do início da civilização na Mesopotâmia, dragões, monstros e criaturas sobrenaturais. E foi na mesopotâmia que surgiram os sumérios, nome parecido com cimérios. Os sumérios são conhecidos como a primeira civilização surgida na história antiga e a eles são atribuídas as invenções do vidro e da escrita. Conan sabia ler e escrever, e o vidro existia na época de Conan, provavelmente esquecido depois que a civilização anterior aos sumérios desapareceu e surgiu tudo que conhecemos e a história datou. Essa evolução e involução tanto na civilização quanto na tecnologia se repete no universo Howardiano pois os pictos da época do rei Kull eram civilizados, mas na época de Conan involuiram se tornando terríveis inimigos hostis, pouco inteligentes e bastante agressivos, algo menos evoluído que os Neandertais.
Red Sonja

Robert E. Howard ao lado de J.R.R. Tolkien utilizaram muito bem a sobreposição dos continentes europeu, asiático e africano em suas histórias pois nota-se que a época hiboriana acontecia na África e sul da Europa. A Ciméria ficava aonde hoje é a Argélia um dos países que contém o deserto do Saara, que segundo fatos recentes, na época do último degelo continha muitas árvores, que só cresceram e sobreviveram devido aos ventos frios que vinham do sul da Europa, aonde havia muito gelo. Com o final da era glacial e o gelo recuando para o norte, a vegetação sumiu e criou-se o deserto. Levando em conta esse fato o autor Dale Rippke, um dos escritores de Conan está certo e não mais o seu criador, Robert E. Howard.O universo e o detalhismo do universo de Howard é tão grande que um fato histórico não muda muita coisa, afinal Conan se deparou com Homens-elefantes, aranhas e morcegos gigantes, lagartos do tamanho de dinossauros e feiticeiros poderosos perigosíssimos, que era o que importava para o leitor. Se vale a pena detalhar as similaridades dos nomes hiborianos, thurianos e hiperborianos saiba que o nome “Ciméria” baseia-se no termo "Cymru", palavra galesa que significa Gales. Conan é um nome irlandês e os cimérios são descritos de forma similar aos “irlandeses negros” nada mais do que “gigante de bronze”, um dos modos aos qual se referem a Conan. Coríntia seria uma civilização de aspecto grego, nome inspirado na cidade de Corinto e da província de Caríntia na Idade Média. Os Pictos que ocupam uma imensa área a noroeste, beirando o que seria o oceano atlântico, receberam nomes ameríndios e o nome “picto” vem do termo latino “pintado” (no inglês, picture, "foto"), que poderia ter relação indireta com os ameríndios, e como os pictos só usavam machadinhas e lanças, daí vem a conexão.Assim como Cortíntia outros nomes são retirados de mitologia ou palavras e outras línguas como Stygia que vem de Styx (país que estaria no lugar do Egito), um rio da mitologia grega que na verdade é o rio Nilo. No passado, o território da Stygia incluía Shem, Ophir, Corinthia e parte de Koth. Por sua vez Koth, onde habitaram os antigos hititas tem como capital kothiana a cidade de Khorshemish correspondete à capital hitita Karkemish. A Aquilônia sujo nome é derivado da cidade de Aquilônia, em Avellino, na região de Campânia, ao sul da Itália, apresenta semelhanças com o antigo Império Romano. Pelo maravilhoso traço de John Buscema, em uma de suas aventuras Conan vestia uma armadura parecida com a dos romanos. E por falar em Roma, o nome Zíngara é a tradução de “cigana” em italiano. O nome “Hiboriano” é uma contração do conceito grego de Hiperbórea, literalmente “Terra-Super-Nortista”, afinal a Ciméria ficava ao norte. E por aí vai.
Valéria

Howard ficou famoso depois de 9 anos escrevendo e foi justamente com o conto “The Phoenix on the Sword” (A fênix na espada) uma cópia de “By this axe, I rule” (“Por meio deste machado, eu governo”), uma história criada para o personagem Kull que foi rejeitada pelos editores da revista Weird Tales, que era onde Conan estava debutando. Conan foi criado como rei da Aquilônia, mas Howard passou a escrever sobre as diversas fases da vida do personagem: ladrão, mercenário e pirata. Caso você não conheça o universo do cimério e mais sobre ele, Conan não é o tipo de heróis galante e certinho, na verdade ele é um anti-herói, pois roubava, matava e conforme o caso tinha uma vida mundana ao lado de prostitutas bebendo muito vinho. Na época hiboriana a profissão mais antigado mundo existia com certeza, assim como tavernas, moedas, comércio, inflação, sociedade, prisão, crimes, julgamento, jogos de azar, gladiadores e tudo que o mundo moderno conhece das civilizações pós-sumérios. De fato o universo de Conan era muito rico e L. Sprague de Camp e Lin Carter, dois escritores de ficção científica e contos fantásticos, deram continuidade as aventuras do cimério além de compilaram e organizaram os fatos de sua vida, coisa que foi muito bem aproveitada por Roy Thomas, que se tornaria o mentor dos roteiros de Conan para os quadrinhos.Roy Thomas era editor da Marvel Comics e conseguiu convencer os chefões da casa das ideias (apelido dado a Marvel) e começaram a publicar as histórias em quadrinhos deste personagem que não tinha nada de superpoderoso. E eis que nasce a revista “Conan, o Bárbaro”. Howard sempre se referiu a Conan como aventureiro, nunca como bárbaro mas Thomas achava mais apelativo a revista se chamar “Conan, o Bárbaro” do que “Conan, o Cimério” pois imaginava que muitos confundiriam cimério com sumério e julgava fraco o título “Aventureiro”. O desenhista escolhido para dar traço ao bárbaro foi o jovem inglês Barry Windsor-Smith, que na época, tentava copiar o estilo do mestre Jack Kirby; afinal as primeiras opções para desenhá-lo eram Gil Kane e John Buscema, mas eles cobravam caro demais. A realização da revista e sua aprovação pelos diretores da Marvel foi difícil, mas ela foi sucesso imediato logo que foi lançada e dois anos depois John Buscema foi o desenhista responsável pelo título do bárbaro que só crescia em vendas e ganhou um título novo em 1974 (A espada selvagem de Conan) e outro título em 1980: “King Conan” (rebatizado mais tarde como “Conan the King” provavelmente para evitar alguma semelhança com o nome King Kong). Eventualmente, o filipino Alfredo Alcala finalizava as histórias desenhadas por Buscema.Conan passou por poucas e boas em sua vida, teve muitos inimigos guerreiros, príncipes e magos. Teve romances marcantes com as personagens Valéria e Bêlit, esta segunda na saga “A rainha da costa negra”, onde víamos um Conan pirata. Nessa época Conan acabou enfrentando a lenda-viva conhecida como Amra, o leão, uma espécie de Tarzan bárbaro. Conan o derrotou e acabou ganhando a alcunha de Amra pelos nativos da região onde Amra vivia. Esse nome o perseguiu por várias edições. Conan também se encontrou com Sonja, mas como a guerreira ruiva é difícil de ser derrotada e quem a derrotasse iria possuí-la na cama, Conan ficou só na vontade. A Marvel aproveitou bem tanto Conan quanto Sonja e fez ambos viajarem no tempo até o século XX, fazendo Sonja se encontrar com o Homem-Aranha e Conan andar por Nova Iorque atrás do mago que o trouxe até aqui contra a sua vontade. Conan acabou se encontrando com Thor no épico “Quando os bravos se encontram” publicado na quinta edição da revista Grandes Heróis Marvel onde ambos andam lado a lado em buscas de respostas para Thor, que viajou no tempo sem querer tentando seguir seu irmão Loki e teve sua memória apagada. Thor e Conan se ajudam em busca do inimigo de Conan, o mago Thoth-Amon, que estava em poder do martelo de Thor. Este morre nos braços de Conan, assim como o mago e Conan leva o martelo de Thor para Crom, seu deus, e no final da história diz que Conan destrona Crom tornando-se Buri um dos primeiros deuses modernos, pai de Bor e avô de Odin.No Brasil o bárbaro mais famoso dos quadrinhos começou a ser publicado em 1972 pela editora Minami e Cunha e no ano seguinte pelas editora Roval e também pela editora Graúna, sendo que esta última fez um lançamento pirata, sem pagamentos de direitos para Marvel, mudando o nome de Conan para “Hartan, O Selvagem”. O cimério passou pela editora Bloch e ficou por 20 anos na editora Abril onde além da revista tradicional publicava histórias dele em revistas como Heróis da TV e Superaventuras Marvel, e mais tarde ele também uma revista em formatinho, minisséries, edições especiais coloridas, livros e uma reeimpressão da revista Espada Selvagem de Conan desde o número 1. Em 2002 Conan passou a ser publicado pela Mythos editora sendo cancelado pela mesma em 2010 após 76 edições publicadas. Nos Estados Unidos Conan é publicado pela Dark Horse desde 2003 e não mais pela Marvel Comics.Conan ganhou um filme há 30 anos estrelado pelo mais do que manjado atual governador da Califórnia no papel do cimério, além de nomes como John Millius (direção), Oliver Stone (roteiro), James Earl Jones (no papel de Thulsa Doom) e Basil Poledouris (música). Na sequência foi produzido “Conan, o destruidor” não tão bom quanto o primeiro e na década de 90 Conan ganhou um desenho animado e uma série de televisão que não duraram muito para a alegria dos fãs. O Conan do desenho tinha um escudo com um pássaro mágico que conversava com ele e assim como a série de TV tinha amigos que não deixavam as histórias nada fiéis aos quadrinhos ou aos livros. Recentemente um novo filme do bárbaro foi produzido com o ator Jason Momoa no papel do cimério. O filme agradou alguns mas não agradou tanto a outros e procurou explicar muito sobre quase tudo do universo criado por Howard.
Robert Erwin Howard
22/01/1906 - 11/06/1936

Se Conan era um bárbaro letrado, ele tinha suas opiniões, e ideias, sendo assim, filosofava e se indagava sobre o aço sendo pelo enigma de seu deus Crom ou afirmando “... ainda não vi nada, neste mundo, que o aço não possa cortar!”, ou pensando na vida da seguinte forma: “Uma coisa eu sei: se a vida é ilusão, eu também faço parte dela; e, sendo assim, a ilusão é real para mim. Eu vivo, estou cheio de vida, amo, mato e sou feliz desta maneira.”, como disse a sua ex-amada Bêlit. Conan é um personagem de um mundo de ilusão, mas ele não se apega a coisas mesquinhas e procura tirar o máximo de si. Se isso serviu como inspiração de vida para os leitores das sagas do personagem, se influenciou de alguma forma, ou serviu de um mero passatempo, jamais saberemos ao certo o que aconteceu e acontece com todos ao longo desses 80 anos de existência do cimério, mas seja como for ele provavelmente viverá após irmos embora daqui. Na primeira edição da revista “Conan, o aventureiro”, o jovem Conan diz a um velho cego que, ao encontrar seu destino iria agarrá-lo pelo pescoço e fazer com que lhe contasse o que estava reservado para ele. Provavelmente pelo menos mais 80 anos de sagas tão boas quanto as adaptadas por Thomas e Buscema, e que Crom carregue todos que não acreditarem nisso!