21 de abril de 2012

Inquisition e Wisdom

Local: Hangar 110 (São Paulo/SP)

Data: 17 de Março de 2012

Esse show estava sendo esperando por dezenas de headbangers apreciadores de Black Metal e estava sendo divulgado com mais de dois meses de antecedência...

Eu mesmo estava curioso para ver a banda e presenciar mais um show promovido pela Tumba, mas eis que na quinta-feira, antevéspera do show (o show aconteceu num sábado), a imprensa e amigos ligados a produtora receberam a notícias de que a polícia federal não liberou os vistos da banda Absu, que desde o começo de Março estavam ali na espera da liberação. A informação foi que alguém da polícia federal deixou na “gaveta” para ver isto depois e acabou esquecendo de liberar o visto.

Caso o visto fosse liberado, seria na sexta-feira, véspera do show e só por uma sorte grande os vistos seriam liberados e a banda poderia embarcar para o Brasil. Bom, tratando-se de Black Metal vamos falar em “sorte grande” ao invés de “milagre”, não é?

Infelizmente o visto do Absu não saiu para o show de São Paulo e na véspera do show foi divulgado isso para toda a imprensa e muitos fãs que souberam disso desistiram de ir ao show ou foram para reaver o dinheiro que gastaram com o ingresso. Os que queriam assistir o show tiveram parte do dinheiro do ingresso devolvido, mas desconheço qual foi a porcentagem devolvida do valor total do ingresso, mas seja como for, isso é um ponto a favor da Tumba, que além de se preocupar com as bandas e o cenário da música extrema, também pensa no público e em sua reputação. Alguns fãs ficaram do lado de fora apenas esperando o pessoal sair ou conversando com quem não entrou no show.

Além do Absu, Inquisition e Wisdom, a banda carioca Enterro iria tocar também, mas não apareceram para o show e desconheço os motivos e nem quero especular o que pode ter sido, como a falta da atração principal. Quando vi que o show do Wisdom começou tarde, comecei a pensar que iria atrapalhar as outras duas bandas e o show terminar tarde, afinal o Inquisition era a segunda atração principal da noite. Bom, seria a segunda atração principal se o Absu tivesse tocado. Explicação sobre o ocorrido feita, vamos aos shows.

Admito que o Wisdom tem uma presença legal de palco, até chama a atenção do público pela postura humilde, alegria, gestos e caretas no palco, mas os paraguaios não agradaram muito sonoramente. Faltava algo ali e eu não sabia o que era. O show deles foi breve e quando eu tentava entender melhor o som deles as luzes foram acesas. Por ter apenas duas bandas achei que o set-list deles poderia ser de 40 minutos e não metade deste tempo. Nestes 20 minutos que a banda tocou o vocalista Seldrack, falou algumas palavras em “portunhol”, agradecendo o público e em certo momento ele assumiu as baquetas indo para a bateria que desde o começo do show estava sendo tocada por Vitor Friggi, da banda brasileira Chaos Synopsis. Apesar do som estar bom e a iluminação boa, muitos headbangers ficaram apenas observando a banda.

Depois de mais de 20 minutos entra o Inquisition no palco que para a minha surpresa era uma dupla, sendo que o vocalista era também o guitarrista e o outro era um baterista. Pelo que me lembro nunca vi duplas no Heavy Metal mas sim trios como Krisiun, Immortal, Sodom e Destruction e até um showzinho no interior de São Paulo há 20 anos em que havia apenas um cara cantando no palco com a guitarra em playback.

Comecei a pensar no lance dos vistos que não foram liberados pela PF e indo na esteira de tudo que havia acontecido pensei de forma irônica sem nenhuma maldade “será que saiu visto apenas pra metade da banda e os outros dois ficaram?” Essa coisa da demora do visto do Absu me marcou e chateou mesmo, então tenho que zoar com a situação para a coisa não ficar totalmente chata. A banda se “veste” com corpse paint e o vocalista Dagon é bastante expressivo, só o jeito de tocar do baterista Incubus que achei estranho deixando um dos braços quase o tempo todo esticado, mas enfim, cada um toca como se sente melhor e o importante é o som.

Algo que chamou a atenção foi a falta de tatuagens nos braços do guitarrista que fazia chifrinhos com as mãos e levava o punho ao ar com vontade. Ele sabia encarar o público e tinha carisma. Abriram o show com as músicas "Astral Path to Supreme Majesties" e "Nefarious Dismal Orations", e só na terceira música "Empire of Luciferian Race" que fui reparar na voz do vocalista. Não sei se estava distraído ainda observando o ambiente e o visual dos caras, mas nem me liguei que a voz dele lembrava um pouco a voz do vocalista da banda Master, Paul cara de bode, ou algo assim.

O Inquisition segue com "Command of the Dark Crown" e depois apresentam "We Summon the Winds of Fire" (For the Burning of All Holiness). De fato alguns sons tem títulos longos e as vezes antes da música se iniciar vem um breve discurso profanador a lá Black Metal. Notei que o vocal se mexia as vezes como o Abbath, vocal do Immortal, parecendo que andava sobre um cavalo. Poucas vezes durante o show, o baterista erguia as baquetas e cruzava-as em forma de cruz invertida, coisa que nunca vi antes, mas que com certeza outras bandas fazem. A banda segue tocando "Where Darkness is Lord and Death the Beginning" e "Embraced by the Unholy Powers of Death and Destruction" e devo afirmar que alguns riffs dos colombianos radicados nos Estados Unidos são de matar e tem uma energia que já deixa o público animado. Eles tem boa criatividade e se fosse um quarteto a coisa seria mais interessante.

A banda segue na sequencia com "Imperial Hymn for Our Master Satan", "Crush the Jewish Prophet", duas músicas que pelo título já sabe-se bem o conteúdo. Saindo do lado mais satânico e blasfemador, eles passam para algo mais esotérico por assim dizer e tocam "Cosmic Invocation Rites", seguida por "Desolate Funeral Chant" e terminando o set-list de menos de uma hora de show com "Ancient Monumental War Hymn".

Sim, foi menos de uma hora de show, provavelmente 50 a 55 minutos e antes das 23:00 horas o Hangar 110 começou a ficar vazio.

A falta do Absu deixou tristes algumas pessoas como ouvi comentarem ao final do show e terminar mais cedo também deu um pouco aquele ar de tristeza, mas o mais importante foi que o evento ocorreu e o som, bandas e público eram de qualidade e não teve nenhuma confusão. Ponto pro nosso cenário.

O Absu acabou vindo pro Brasil mas tocando em outras cidades e mencionaram que eles voltariam no segundo semestre, em Setembro, provavelmente no "XI Setembro Negro". Vamos esperar!

Fotos por Leandro Cherutti